Solidão a Dois
Mirian bateu à porta pela terceira vez, a ausência do toldo lhe proporcionava fritar a pele no sol de meio dia enquanto esperava para entrar.
Do lado de dentro vinha um barulho constante do fluxo de água de uma torneira aberta que, pelo tempo, enchia algum recipiente bem grande.
Depois da 7 sétima sequência de batidas na porta, Mirian notou um filete de água que escorria no canto da porta, o barulho da torneira ainda não cessara e claramente isso não poderia ser um bom presságio.
Ela deu a volta na casa procurando uma janela aberta, que não encontrou, entretanto a janela de vidro do quarto de Igor cedeu o panorâma. O chão do quarto e do corredor da casa estavam encharcados, alguns papéis amassados jaziam úmidos encostados no rodapé. No corredor boiavam pelo chão alguns comprimidos de formatos e cores diferentes. Por último o olhar de Mirian chegou na fresta da porta entreaberta do banheiro, a água no chão balançava com mais intensidade ali dentro e mais comprimidos esparramados surfavam nas ondas de água doce, além disso podia se ver a ponta dos dedos de alguém que deitava no chão.
Mirian correu até o quintal, pegou uma pedra do tamanho de um melão e arremessou contra o vidro da janela do namorado, se içou para dentro apoiando-se no parapeito, sem dar importância aos leves cortes feito no vidro quebrado. Caiu com um baque no chão empapado do quarto que cheirava levemente a uma mistura de pizza e perfume masculino.
As lágrimas desataram a escorrer pelo rosto de Mirian ao entrar no banheiro e encontrar o corpo de Igor caído de bruços, os olhos abertos fixos em algum ponto atrás da privada, ao redor do rosto uma espuma amarelada e espessa tremulava nas ondas e se movia devagar, um filete entrando e saindo da boca entreaberta do rapaz.
Uma semana depois Mirian ainda chorava desenfreadamente, soluçando enquanto as lágrimas pingavam sobre o laudo médico que informava o nome de todas as substâncias ingeridas por Igor para sarar a dor.