Angústia cotidiana

Tic-tac

Sinto-me acorrentada, escuto o barulho do relógio, tic-tac. Acordo exacerbada, começo a chorar. Logo percebo que tenho conversas comigo mesma, depois imagino uma pessoa aleatória ao meu lado, como se estivesse me ouvindo. Grande engano o meu, já que estou sozinha (e vazia).

As lágrimas sempre liberam os seus monstros internos misturados à água, eu sei. Sinto minhas veias gritarem e minha cabeça explodir. De repente tudo piora num clímax, começou a tremedeira de calafrio de-tanto-chorar. Isso piora quando repito mental e oralmente que estou sozinha. As correntes ficam mais apertadas e o relógio cada vez mais lento.

Tic-......tac

É como se eu apenas existisse sem motivo. Vem à minha mente então o súbito pensamento da não-existência (morrer). Seria mais simples se as histórias da minha religião não me atormentassem; eu gostaria de ter motivos para viver, não para ter medo de morrer (ainda mais se eu causasse isso).

Mas não me entrego tanto, minha consciência repete "você consegue, levante da cama, você consegue" e outra voz: "calma, eu sei que não dá". Ainda tenho força latente em mim desabando pelos olhos, as janelas da alma.

Não quero que essa angústia tome o meu peito e o meu corpo. Entretanto, sei que não consigo impedir. Ninguém entende de verdade, eu só tenho de verdade a parte positiva da consciência. Ela não sou eu. No fundo, espero que ela não morra antes de mim ou o tic-tac para de uma vez. E assim eu, sozinha no quarto, não terei mais solução.

Tic-.....