A MENINA POETISA
Naquele lugarejo longe da cidade onde as famílias viviam da pesca artesanal, não eram muito afeitos a passarem suas noites defronte um aparelho de televisor e sim reuniam-se na praça afim de conversarem uns com os outros, trocarem informações acerca do que acontecia na cidade. Se consideravam uma comunidade feliz, pois cada um tinha seus compromissos e com estes levavam a sério perante os demais. A cada pescaria produtiva, os homens reuniam-se a beira da praia a dividirem com todos os demais. Porém na família de dona Carlota e seu Joaquim despontava a pequena Sol, não na arte de cozinhar, costurar, mas sim na arte da escrita, motivo de orgulho de seus pais. No entanto a menina Sol era mal compreendida pelas demais famílias, afinal as filhas mulheres deveriam preparar-se para o casamento, aprender os ofícios da casa era fundamental para que as futuras nubentes fossem uma boa dona de casa como também uma excelente esposa dedicada e servil para seus companheiros.
Apesar do respeito que a comunidade tinha com sua família, não impedira que as fofocas corressem solta a despeito de seus pais a educarem diferentemente da cultura local, pelo contrário a incentivavam a continuar seus estudos como também sua arte de escrever. Orgulho da família e de sua professora, dona Matilde, incentivadora a continuar seu caminho. Sol sentia-se feliz e a cada criação, toda garbosa, dirigia-se a professora com o intuito de que esta aprovasse e corrigisse os devidos erros gramaticais. Dona Matilde a cada dia se sentia orgulhosa por ter em sua classe uma aluna aplicada e criativa, não desmerecendo os demais, pois ela via em cada aluno um potencial, porém a pequena Sol era por demais criativa em seus versos e prosas.
Sol era uma menina estudiosa, aplicada, fazia com maestria seus deveres escolares, porém os deveres de casa deixavam a desejar. Seus pais compreendendo e respeitando seu talento eximia-a dos afazeres de casa. Um dia dona Matilde comenta com a menina a respeito de um concurso literário que iria acontecer nos próximos meses nas escolas do município a qual desejava muito que Sol participasse deste evento, pois tinha certeza que ela estava apta para participar e com certeza se sairia bem. Diante da afirmativa, a professora dona Matilde se encarrega de inscrevê-la custeando a taxa de inscrição. O vencedor (a) seria premiado (a) com a edição de um pequeno livro contendo poesias e contos de sua autoria subsidiado pelo órgão de cultura do município o qual seria distribuído nas bibliotecas das escolas municipais.
Seu encantamento como participante daquele concurso, (o seu primeiro) fez crescer sua criatividade e sensibilidade, pois a cada dia remetia-se a dona Matilde e aos seus pais para que estes aprovassem sua criação, diga-se nenhuma, fora reprovada. Sua produção literária aumentara assustadoramente e agora quais das cinco poesias devo apresentar no concurso, pensava diariamente a pequena Sol. Mais uma vez apela para os pais e a professora para que estes ajudassem na escolha, porém estes alegam que a escolha deveria partir dela, ouvindo seu coração. Desta forma, Sol escolhe os cinco melhores trabalhos que tocara seu coração. O primeiro a ser escolhido discorria acerca de sua comunidade, sua cultura, seus casarios. Os demais seguindo uma sequência falava de amor a natureza, o despertar da escrita, reverência a seus pais e por último o amor a vida e suas responsabilidades. A ansiedade se abatera sobre a menina na espera do resultado, exigindo de seus pais e amigos o conforto necessário para dirimir sua angústia.
Finalmente chega o dia da escolha do vencedor e diante disto cria-se um verdadeiro reboliço na escola a espera do resultado. Todos atentos ao anúncio por parte dos organizadores do concurso e eis que o nome de Sol é anunciado como vencedora do concurso. Uma euforia contagiante abatera sobre a escola com todos parabenizando a pequena Sol por sua conquista. A menina emocionada agradece seus pais por compreendê-la e apoiá-la como também à professora dona Matilde por acreditar no seu talento e inscrevê-la naquele concurso.
O tempo passara e aquela menina de outrora, hoje tornara-se uma escritora de renome internacional, tendo seus livros editados em vários idiomas onde costuma visitar escolas fazendo palestras e incentivando seus alunos na arte da leitura e da escrita. Sol não esquecera jamais o apoio que recebera de seus pais, da professora dona Matilde como também da direção da escola em que estudara durante sua caminhada na arte de escrever. Sempre dissera ser muito grata, se não fosse o apoio destas pessoas e da instituição não chegaria onde chegou. A coragem de participar daquele concurso fora o divisor de águas na sua vida. Faz questão de repetir sua história em suas palestras para que sirva de exemplo àqueles jovens cuja história se assemelha à de Sol, onde alguém acreditou em seu potencial. Devemos estar atentos aqueles que estão ao nosso redor, que compartilham conosco suas experiências, só assim poderemos ajudá-los. Com esta frase, Sol encerra suas palestras por onde vai...
Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 23/05/19