Meu nome é Edgar
Meu nome é Edgar.
Por favor, não me chame de “seu coisinha” ou de “moço”. Meu nome é Edgar! Tenho orgulho dele. Fui batizado com esse nome e me formei com ele. Passei no concurso público para trabalhar numa ótima empresa, entretanto, volta e meia me chamam: “Seu coisinha, pode vir aqui por favor?”. Não sei que praga é essa que não conseguem me chamar pelo meu nome. Devo andar com uma placa no peito, já que meu crachá não parece ser suficiente?
No último feriadão fiquei fazendo hora extra. Na verdade, não queria ir beber com o pessoal da repartição. Estava chateado com eles. Acho que faziam de propósito por saberem que me irritavam profundamente, todos os dias.
Me considero um cara legal, participo do rateio pro café, dou lembrancinhas de aniversário e ajudo aqueles que tem dificuldades em elaborar planilhas, mas a recíproca nunca foi a mesma.
Fui me distanciando. Percebi que não era convidado para os batizados, festa dos filhos e formaturas. Apenas via as fotos nos celulares que acabavam passando de mão em mão, mas eu nunca estava nelas.
Na volta do feriado eu já estava lá, como sempre. Cheguei cedo, liguei o ar condicionado, a máquina de Xerox e até passei o café. Pouco a pouco os demais foram chegando e tomando seus lugares, mas não recebi sequer um bom dia. Reclamaram que a sala estava fria demais, que a Xerox estava com defeito e o café gelado. Povo ingrato! Eu tinha adiantado as coisas, mas nada os agradou. Achei que tivessem sentido minha falta, que demonstrariam algum remorso. Era o mais velho da equipe e, portanto, merecia algum respeito, não acham?
Fiquei irado e resolvi chutar algumas coisas. Porém, acho que exagerei. As mulheres gritaram e saíram apavoradas. Os rapazes foram atrás, acho que para consolá-las. Típico. Cansado, decidi juntar minhas coisas. Foi quando percebi que alguém estava cochilando em minha mesa. Era eu, desde sexta-feira, e ninguém havia notado.