Na ponte...
Entregar-se àquele sentimento era como pular no escuro: arriscado, perigoso e desafiador. Fazer ou não fazer aquele salto no escuro? Eis o dilema...
Fecho os olhos e ouço gritos, ingresias familiares de um passado um tanto quanto remoto. A molecada no córrego... estamos sobre uma ponte, lá embaixo as pedras são lambidas pela água barrenta. Não há como enxergá-las, mas sabemos que estão lá. Elas estão ocultas pelas águas amarelas. Mas estão lá e nós sabemos exatamente onde estão.
Um erro poderia ser fatal!
Sinto a adrenalina subir, as sensações se misturam: medo, ansiedade, vergonha. O desejo se pular e a vergonha de ser chacoteado pelos outros garotos. Quando se tem 10 anos, não se pensa muito nas consequências, muito menos na morte. E, de repente, uma coisa maravilhosa inundou meu ser com uma coragem pueril que me fez correr de uma à outra extremidade da ponte de madeira e lançar-me naquele pulo suicida eletrizante.
Tchiiiiiiiibuuuuuuum, uau! Que alívio. Coração a mil... vamos de novo!! E toda aquela sensação novamente. Era só fechar os olhos e pular no escuro. Ah, que tempo bom.
E eu agora mais uma vez na ponte com aquela indecisão tão conhecida: Pular ou não pular? Quando se cresce, muito daquela magia que envolve o desafio do desconhecido se perde... E já não se encanta mais com pulos suicidas nem se pula mais das pontes como dantes.