GUEIXAS OU GEISHAS, não importa...
GUEIXAS EM ALTA NO JAPÃO - Não classe em extinção, pelo contrário. A antropóloga americana LIZA DALBY vestiu-se e viveu como GUEIXA em KYOTO para escrever um livro, tese de doutorado, onde conta que é cada vez maior o número de jovens japonesas que, atraídas pelo glamour de conservar as tradições e serem chamadas de 'íki' (chiques), preferem ser gueixas a se casar. ----- O MITO DA AMANTE FANTÁSTICA - PhD em antropologia pela Universidade de Stanford, autora dos livros "Gueixa" (1983) e "A lenda de Murasaki" (2000) e de um estudo sobre quimonos publicado pela Universidade de Yale, também consultora de japonismo de SPIELBERG para o filme "Memórias de uma gueixa", do livro de ARTHUR GOLDEN, ela foi durante meses a gueixa 'Ichigiku'; aprendeu a se vestir como elas e entreter clientes buscando a companhia dessas mulheres misteriosas e sexy (que jamais se casam) numa casa de chá no distrito de Pontochô, em KYOTO. O livro de 1983 mostra como as figuras delicadas /rosto coberto com pó branco, corpo em quimono longo e justo, pezinhos em tamancos de madeira/ sobrevivem na moderníssima e agitada sociedade japonesa - seculares mitos de fantasia exótica no imaginário ocidental, mistura de anfitriã-garçonete-dançarina-perfomática-amante... Não prostitutas sofisticadas, não a Capitu da *telenovela... não amante fantástica nem a mulherzinha subserviente (só a fama) cujo leque esconde a boca. Não função sexual, mas preservar as formas tradicionais da arte japonesa: música & dança. LIZA estudara o 'shamisen' (tradicional instrumento musical) e aprendeu muita coisa na casa de chá dirigida por ICHIKIYO, gueixa aposentada já falecida a quem chamava de 'mãe', exemplo de charme, feminilidade e extrema competência para o trabalho. Em seis meses, estreou como 'maiko' (gueixa aprendiz). Hierarquia rígida, porém forte senso de equilíbrio com brincadeiras; e em geral elas têm filhos, mesmo sem casar, possíveis casos discretos com homens casados - pré-requisitos de bom humor, capacidade para guardar segredos e tocar o 'shamisen' em festas caras, regadas a saquê. Diferentes das outras mulheres na 'gei', devoção às artes tradicionais. Mesmo em KIOTO, atmosfera do Japão tradicional, não se vê gueixas andando nas ruas, hoje artistas de um mundo fechado, celebridades expostas há cem anos atrás. ----- Declaração de ELEANOR UNDERWOOD, autora de "A vida de uma gueixa" -"Não é só o dinheiro que atrai as jovens, ou seria melhor ser hostess de um clube noturno." ----- AMOR PROIBIDO MANTÉM A TRADIÇÃO - Gueixa significa literalmente 'pessoa das artes' e surgiram nos quarteirões dos prazeres, áreas criadas no Japão no século XVII para tirar das ruas indigentes-prostitutas-artistas; aí, surgiram oásis de diversões fora da estrutura rígida social, para mercadores gastarem seu "ouro". Mulher, instrumentista e cantora, as primeiras gueixas surgiram em 1750, cortesãs especialistas na arte do amor. Depois, abertos os portos e início da modernização do país, vieram as verdadeiras gueixas que se dedicavam à música e à dança - mais livres, chiques, menos envolvidas em intrigas. Auge no século XIX, quarteirões atraindo o gênero masculino. Elas chegavam meninas, logo treinadas e perdiam a virgindade, algumas se dedicando a um único cliente ou "patrão", como garantia de finança estável. Na década de 30, quimonos, penteados elaborados e dedicação às artes foram considerados atraso de vida. Com a II GM e o aumento do nacionalismo, as gueixas voltaram a ser respeitadas como mantenedoras da tradição.
GUEIXA, tanto símbolo japonês como o Monte Fuji........
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NOTAS DO AUTOR:
CINEMA - "Memórias de uma gueixa", drama/melodrama, 2005 - romance embrulhado em cenários luxuosos e roupas de época deslumbrantes - filme delineia o cotidiano das japonesas que passam a vida entretendo homens poderosos. Oscar de figurino, fotografia e direção de arte. /// TELENOVELA - "Laços de família", 2000/2001. /// ARTHUR GOLDEN - escritor norte-americano formado em História da Arte (Harvard, 1978), especializado em arte japonesa.
FONTE:
"A Capitu japonesa" - Rio, caderno ELA, jornal O GLOBO, 28/10/00 - fotos: a antropóloga, vestida a caráter, no colo um laptop; uma gueixa na plataforma de um trem-bala, tempos modernos.
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