1115-NOTÍCIAS DO ÉDEN -

A vida não era nada mole para Adão, mesmo vivendo no Paraíso, local onde o Criador o havia colocado para usufruir de uma vida agradável, sem preocupações e completamente feliz.

Entretanto, não era bem assim. Passava o dia inteiro em busca de alimento. Só comia frutas, folhagens de paladar agradável; descobriu que algumas raízes eram gostosas e, escavacando a terra, encontrou batatas, tubérculos e coisas que tais.

Porém, Adão era um homem grande e forte, construído “à imagem e semelhança do Criador”. Tinha necessidade de uma boa alimentação; não caçava, pois jamais passou pela sua cabeça que animais e peixes também poderiam ser comidos. Nem cogitava, até que, muito tempo depois, Caim, segundo filho do casal, começou a matar animais, que oferecia ao Criador em sacrifício, coisa que Adão também jamais iria entender. Mas isto já é outra história.

O fato presente era que passava o dia procurando alimentação. E vivia sempre num estado de fome, pois comer apenas vegetais e frutas não dá muito sustento, não dá aquela saciedade gostosa, não provocava uns bons arrotos de satisfação, de estomago cheio.

Solitário, passava os dias assim: caminhando pelo Éden, sempre olhando para uma árvore ou outra, tropeçando em raízes que apanhava e comia. Com o tempo foi memorizando quais arvores davam frutos mais saborosos e fáceis de comer. Alguns havia que só comia quando algum pássaro bicava e deixava os restos, como abacaxi, melancia, maracujá, laranja. Ele não tinha um instrumento sequer para descascar esses frutos. Conseguia quebrar algumas castanhas imitando os tucanos de bicos coloridos e fortes, aptos para arrebentar cocos, nozes ou castanhas.

Adão aprendia rápido. Com pedras quebrava cocos e castanhas duras. Quando achou uma pedra lascada, primeiro cortou o dedo mas em seguida viu que poderia tirar as peles das frutas como laranjas, melões, abóboras e enriqueceu um pouco a variedade da alimentação.

Quando Eva apareceu no seu caminho, foi um desastre. Ela se agarrara a ele de maneira definitiva. Ia aonde ele ia, dormia com ele, era um estorvo. Com relação à comida, então, foi terrível, pois Adão passou a procurar comida para os dois.

Ela pouco ajudava. Era sonhadora, vivia olhando para o céu, ficava tempo sem falar nada, (ainda bem!) com se estivesse cochilando, esperando Adão fazer a colheita para duas bocas.

Ela encontrou umas coisas brancas que cresciam em troncos podres, eram macios e de gosto adocicado, e os comeu. Caiu num torpor, numa espécie de sono de olhos aberto, e falava coisas, movimentava-se, parece que sentindo um grande prazer.

Quando saiu daquele estado que Adão achou muito estranhou, falou com ele:

— Experimenta, Adão, é uma delicia. E agente sente umas coisa maravilhosas!

Adão experimentou, não gostou e cuspiu fora. Deu umas fungadas a fim de aliviar a boca daquele sabor estranho, e por isso chamou aquela “coisa” de fungo.

Adão desconfiava de Eva. Não observava bem as coisas, se admirava com tudo e tinha pouca memória. Foi uma grande dificuldade ensinar-lhe os nomes dos bichos, que Adão havia escolhido juntamente com o Criador. Ela tinha dificuldade em aprender, confundia tigre com carneiros, fazia uma confusão. Com as plantas e os locais também tinha dificuldade em decorar os nomes: era meio que lesada.

Apesar de tudo, foi ela quem descobriu a macieira. Adão ficou surpreso quando ela apareceu com duas maçãs, deu uma a ele e começou a comer a outra. Viu num galho podre uma daquelas coisas brancas e macia, fungos, como Adão dissera e comeu com a maçã.

Como acontecia quando comia fungos, caiu logo num torpor que durou tempo suficiente para que uma cobra passasse sobre suas coxas e barriga, que Adão afastou com gentileza.

Quando voltou ao normal, Eva disse que a cobra havia lhe contado que aquela fruta vermelha era perigosa, porque sendo muito gostosa, servia para muita coisa, como servir para envenenar pessoas.

— Envenenar como? Que é isso?

— Sei lá, foi a cobra que falou.

— Mas cobra não fala.

— Já te disse, não sei como foi. Só falou que não é prá gente comer não. E falou que seu nome é maçã.

Mas aí aconteceu uma coisa interessante. Adão provou da maçã e gostou. E comeu com um pedacinho daquela coisa branca que dava em tronco podre e que dera o nome de fungo. Pois não é que sentiu um tremendo bem estar, uma sensação de liberdade que nunca tinha sentido.

Saiu correndo, pulando, gritando como um louco. E com o passar dos dias (passou a comer maçã todos os dias, sempre um pouco de fungo com maçã) sentiu que a mente clareava, as cores eram mais vivas, e desenvolveu habilidades: daquela pedra lascada fez uma faca, depois um chuço de madeira para cutucar as frutas no alto dos galhos, fazendo-as cair.

Começou a gostar de ficar perto de Eva, de sentir gostoso o seu cheiro e durante a noite, puxava-a para si, com estranhas sensações.

Estava aprendendo rapidamente muita coisa nova.

O Criador tudo assistia e pensou:

Adão está evoluindo muito depressa. Isto não está bom. Vou ter uma conversa com ele.

E foi então que as desgraças começaram acontecer para Adão e Eva.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 19 de junho de 2019.

Conto # 1.115 da série INFINITAS HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 02/07/2019
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