TRÊS VIDAS - BVIW
Dona Selma sabia das coisas. As notícias chegavam rápido por conta dos eventos da Igreja. Ultimamente o falatório era sobre a Lurdes que rezava o terço, era amigável e popular. Não sabiam ao certo se tinha enviuvado ou se era separada pela distância e abandono. O fato era que do Canadá seu marido nunca mais voltara, e ela rezava contando os dias para seu retorno.
Depois disseram que ela parou de contar e uma prima havia se mudado para a casa dela. A pessoa mais incomodada com essa história era a Zuleica. Ela falou até em investigar para saber se Lurdes era viúva ou adúltera.
Zuleica, coitada, não se sabia onde arrumava energia para pensamentos ardis. Possuía uma vida tão cheia dos pesares. Cuidava do marido deficiente e via sua casa transformada em uma enfermaria. Hospedava a sogra com frequência e cuidava dos dois. Rezava o terço contando com o dia em que seu fardo fosse menor que a cruz de Cristo.
Dona Selma em sua perspicaz sabedoria achava que a mais feliz das rezadeiras era a que cada vez menos rezava. Era por isso, que Lurdes, a Zuleica tanto incomodava. Ela é que não contaria os dias para entender o porquê da felicidade dos outros.