Maria da Justiça

A Taba com comprou a Demo prata e os poucos operários, que a demo prata tinha foram incorporados pela nova empresa. Direitos e deveres, promessas e acordos foram dispostos e discutidos só com a diretoria. Assim, na despedida do antigo chefe, ele agradeceu aos trabalhadores, pelos anos de dedicação e desejou aos antigos empregados felicidades com a nova direção.

De cara o novo patrão avisou que não haveria aumento e que provavelmente haveriam uns cortes. Pressionados os empregados lastimaram e pelos cantos se queixavam.

Como na derrota é que alguns buscam suas forças. Graça, que viva com o sorriso alegre, foi em busca de informações a respeito daquela situação no sindicato, da qual nunca fizeram partes, pois o patrão anterior sempre foi um “paitrão”. E uma vez lá, fora orientada a se sindicalizar e posteriormente, numa oportunidade difundir a ideia de sindicalizar os demais, para que eles tivessem forças para lutar pelos direitos.

De volta a empresa a moça provocou uma reunião rápida e expos os muitos benefícios de se sindicalizar, avisando uma data para reunião sindical e todos ficaram animados. E como benefícios de trabalhador soa logo na rádio cipó, os comentários contagiaram os empregados da empresa que anexou a Demo prata. E como um surto, logo a notícia se espalhou e no dia marcado a presença foi acima das expectativas. E ali mesmo, para não perderem tempo, como alguns mais exaltados diziam, começaram a se sindicalizar.

De volta a empresa, todos caladinhos e muito animados viram chegar a intimação a empresa e o dono, não se fez de rogado indo ao imenso salão. Adotando uma postura diferente das anteriores, humilde perguntou, quem tinha sido o idealizador. Do silêncio mudo amedrontado, ouve-se a voz de Maria da Graça, que se impõe como a idealizadora. O Dono então pergunta o por quê, dela ir se sindicalizar. E ela como sempre franca diz, que era um direito.

Na pausa do silêncio ele mudando de postura, como um camaleão, já em tom esbravejador; olhou para os operários da sua empresa, a Taba com e ameaçou dizendo que tomaria outras providencias se quisessem permanecer sindicalizados. O medo dos empregados se alastrou, no entanto mantiveram a regularidade ate ali.

No sábado da semana seguinte, orientado pelo seu corpo Jurídico, conversa calmamente e pede gentilmente pra eles se dessindicalizarem, que muitas coisa boas viriam e até paga num restaurante um almoço e todos comemoram. Noutro final de semana paga um jantar e anuncia uma pequena gratificação. E para mostrar força, demite Maria da Luz, que era da Taba com, que não compactuava com as ideias dele, não foi a nenhuma reunião, não obedeceu ao comando, que os outros obedeceram, ela continuou sindicalizada. Já Maria da Graça, por outro lado, que era de outra empresa, ele tenta negociar com a demissão, mas ela é da lei estável, só podendo ir para a rua por furto.

Dias mais, dias menos, ela é chamada para um acordo no Ministério do trabalho, onde o advogado da empresa fala:

- Meritíssimo Juiz essa moça é uma agitadora, mulher problema, totalmente imperita, chega atrasada e falta muito. Por isso queremos ela na rua.

Ela sem poder dizer nada em sua defesa, pois só quem podia falar era o seu representante, no caso o pessoal do sindicato da categoria. Mas o Juiz, sabiamente analisou e falou:

- O que eu vejo aqui, nobre colega é que pelo cartão de ponto dessa moça ela sempre chega, quinze minutos antes de iniciar as atividade e ademais ela tem vinte anos de empresa. Pergunto a você:

- Como uma funcionária relapsa, agitadora e imperita fica numa empresa durante 20 anos. Acho que aqui há sim, um exagero ou uma vontade licita de demitir a moça. O que o senhor faria na minha posição, ao confrontar as suas informações, com os fatos reais, que põe as suas calunias abaixo.

Cabisbaixo o advogado da empresa saiu sem nada dizer.

Já à moça o juiz disse:

- Volte minha filha ao seu trabalho, que eles nada podem fazer contra você. E qualquer coisa venha a mim.

Voltando ao trabalho, detectou um saco, em baixo de sua banca cheia de produtos para venda, pertencentes a empresa e ela imediatamente chamou a chefe e pediu gentilmente para tirarem a sacola de lá, visto que poderiam dizer que ela estaria furtando aqueles produtos.

Após esse fato, ela voltou ao sindicato e pediu nova audiência com o juiz e falou do seu interesse em sair da empresa, pois sentia que eles a queiram prejudicar. Assim o juiz chamou a empresa e perguntou do seu interesse e a empresa ofereceu 80%. Ela prontamente aceitou e a paz voltou a reinar na empresa, nas palavras do dono, ou seja, empregados sem serem sindicalizados e o trabalho acontecendo do jeito que todo patrão sonha.

Caso encerrado, Maria, então com o seus problemas pessoais arrumou outro emprego. Agora no ramo do comercio varejista de confecções. Seguia sua vida normal, com a sua objetividade sonhada. Começou a estudar a noite, para concluir o seu ensino médio, como professora da Escola Normal, I.E.P – Instituto Educacional do Pará, quando sua antiga chefa, da Taba com, a procurou, em nome da maioria e lhe pôs a par de todos os momentos difíceis que eles estavam passando desde que ela saiu da empresa. Pediu pra ela os liderar, afim deles se sindicalizarem e quem sabe assim barrar os maus tratos.

Sensatamente ela respondeu:

- Amiga. Sou deverasmente solidária a situação de vocês, no entanto, não sou mais funcionária da empresa. Agora não posso mais fazer nada. No tempo que eu podia fazer algo, vocês me abandonaram como a noiva no altar e só quem me acompanhou foi a Maria Luz. Agora sinto dizer, que é muito tarde... E ainda posso ser processada se algo tentar. Lamento mesmo.

E sem esperança, a ex- chefe foi-se sem nada mais dizer.