As vezes o barato sai mais caro

George entrou no puteiro com o pior dos humores naquela noite. Tinha garganta seca e cabeça cheia de coisas que queria esquecer.

Se sentou à beira do balcão perto do bar e pediu uma cerveja.

Ruth, a garçonete com cara de sapatão, lhe entregou um latão que parecia estar trincando de gelado, junto com um copo americano.

George encheu o copo e bebeu o conteúdo de uma vez. A cerveja estava quase congelando mesmo. Ruth lhe passou uma pequena vasilha cheia de amendoim e lhe disse com um sorriso.

- Essa ai fica por minha conta.

- Obrigado. – Ele respondeu, sem tirar os olhos do balcão.

- Dia ruim? – Perguntou Ruth, acendendo um cigarro.

- Dia péssimo.

- Trabalho?

- Não. Mulher...

- Sua esposa?

- Nunca casamos. Mas bem que ela poderia ter sido

- E por que não foi?

- Não acho que alguma vez ela tenha me levado a sério.

- E você quis ser levado a sério?

- Por ela?... Sempre.

- Complicado. Acho que acontece com todo mundo, vez ou outra.

- É. Acho que sim.

Ruth se afastou, carregando uma bandeja de copos para a cozinha e desapareceu por trás de uma cortina.

George ficou bebendo sozinho até que uma garota se aproximou.

- Quer companhia hoje?

- Não exatamente. – Ele respondeu, sem sequer olhar para sua a moça.

Ela apoiou as costas no balcão e ficou de frente para George, lhe encarando.

- Tem certeza?

George não reconheceu a garota. Já tinha vindo diversas vezes àquele lugar e não se lembrava de tê-la visto. Era mais bonita que a média das outras. Na verdade era mais jovem e mais atraente que qualquer uma das outras. Portanto também devia ser a mais cara.

Ele não respondeu, e ela pegou o seu copo de cerveja e tomou um gole.

- Meu nome é Alice. E o seu?

- George.

- Boa noite George.

Ruth estava voltando da cozinha e George fez um sinal para que ela trouxesse outra cerveja e mais um copo.

Alice se serviu e sentou-se no balcão, com as pernas bem abertas.

Apesar da iluminação ruim, George percebeu que ela tinha olhos verdes. Tinha os cabelos cortados bem curtos, de um jeito até antiquado. Não vestia nada muito extravagante. Usava uma saia curta e um top que lhe revelava bastante dos seios, que não eram muito grandes, mas pareciam bem firmes.

- Parece que ela gostou de você, George. – Falou Ruth.

- Não resisto a esses tipos sérios, Ruth. Você sabe. Mas ele parece não estar muito interessado.

- Ele só teve um dia ruim. – Ruth falou, e passou o resto do cigarro para Alice, que deu um trago e apagou a bituca no balcão.

- Pois eu bem que podia dar um final feliz pro dia dele. Se ele quisesse, é claro.

George tomou mais um gole de cerveja e falou quase sem abrir a boca.

- Eu só vim pra beber.

Alice desceu do balcão com um salto e respondeu com um sorriso no rosto.

- Se mudar de ideia, é só me procurar.

- Ok.

Ruth se encostou no balcão, virou uma dose de cachaça e acendeu mais um cigarro.

- Eu tenho uma queda por essa menina. - Ruth disse. Depois de um trago.

- Percebe-se.

- Eu trabalho aqui já há alguns anos, e posso te dizer que já vi todo tipo de meninas por aqui. Essa foi a única que eu tive algum interesse.

- O que ela tem de especial?

- Ela é cínica.

- Cínica?

- Sim. Dá pra ver na cara dela que ela pensa muito mais do que fala. É como se ela soubesse mentir com os olhos.

- E isso te atrai?

- Porra, no caso dela, sim.

- Fale pra ela, então.

- De forma alguma. Onde se ganha o pão, não se come a carne. Minha mãe sempre me disse isso.

- Faz sentido.

- Olha George. Tenho que trabalhar. O bar tá começando a ficar cheio. Mas antes, posso te dar um conselho?

- Pode.

- Vai pra casa. Você não vai achar nada do que está procurando aqui.

- Vou ficar mais um pouco. Mas obrigado.

- Disponha.

Ruth voltou pro seu trabalho e George continuou bebendo. Quando estava na quarta cerveja, Alice apareceu novamente, bebericando o que parecia ser conhaque.

- Quanto é para passar a noite com você? – George lhe perguntou.

- A noite toda?

- Sim. Não quero dormir em casa.

- Tenho que ver quanto fica o quarto. Mas acho que por uns 150 a gente ajeita.

- Está bem assim.

Alice abriu um sorriso e pegou George pela mão.

- Vamos então.

Ela o arrastou para um quarto no fim de um corredor mal iluminado. Abriu a porta e trancou assim que ele entrou.

Havia uma cama de casal, um frigobar e um ventilador de teto.

Além deu um banheiro.

George desabotoou a camisa, tirou os sapatos e se sentou na cama.

Alice se despiu e ficou só de calcinha.

Ela era realmente bonita. Pela aparência, devia ter em torno de 20 anos.

Ela se jogou na cama e se deitou de lado. Tinha no olhar, o cinismo que Ruth tinha comentado. Parecia totalmente à vontade com a vida que levava. E por algum motivo, ele não sabia se seu interesse era fingido, ou se era real.

George a puxou para perto de si e lhe deu um beijo nos lábios.

E de alguma forma não pareceu o beijo de uma prostituta... O que fez com que quisesse beijá-la novamente.

O tempo foi passando e em momento algum ele sentiu que ela estava ali por dinheiro. E assim foi esquecendo quem ela era, e por que estava ali.

Ele a penetrou, e os seus gemidos eram tão reais quanto os de qualquer outra mulher que ele já tinha estado.

Talvez até mais reais.

E quando ela pediu que ele não parasse, ele continuou,

mesmo já estando quase sem fôlego.

Quando terminaram, ela sorriu e apoiou a cabeça em seu peito ofegante. E George pensou que talvez Ruth estivesse certa.

- Você está aqui por causa de uma mulher, não é? – Ela perguntou, quando já haviam recuperado a respiração.

- Como você sabe disso?

- Por que outro motivo um homem viria para um lugar como esse no dia dos namorados?

- Faz sentido.

- Ela vale a pena?

- Não acho que ninguém valha a pena esse tipo de sentimento.

- Você está certo.

- Não queria estar.

Alice se sentou na cama e pegou uma cerveja no frigobar. Deu um gole e passou a lata para George.

Ele bebeu e falou em seguida.

- Você me lembra um pouco dela.

- Lembro?

- Sim.

- Fisicamente?

- Não. O seu jeito mesmo.

- Pode ser mais específico?

- Acho que você finge tão bem quanto ela.

Alice sorriu, mas não disse nada.

- Desculpe. – Ele disse. Não quis ofender.

- Não é ofensa. Na verdade é importante na minha profissão.

- Deve ser.

- O que ela fez?

- Ela foi embora.

- Sinto muito.

- Não sinta.

George encheu a boca de cerveja e engoliu, junto com as palavras que lhe restavam.

Alice se levantou da cama e disse.

- Vou tomar um banho, ok?

- ok.

Ela entrou no banheiro e logo George pode sentir o vapor quente do chuveiro elétrico, enquanto Alice entrava debaixo d´agua.

“E quando você toca em mim... ah ah ah... eu fico toda molhada...” Ela cantarolou...

George não conseguiu segurar o riso.

Olhou para o meio das suas pernas e percebeu que estava ereto.

Se sentia bem, enfim.

Estava vivo...

No fim das contas era melhor pagar pela mentira,

do que levar uma para casa de graça, por engano.

As vezes o barato sai mais caro.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 21/06/2019
Reeditado em 21/06/2019
Código do texto: T6678183
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