A casa de pedra

Eu estava numa casa da região, antiga, alta e construída em pedra. A algum tempo, seu primeiro andar servia como ponto de informações turísticas, mas agora iniciávamos um trabalho de a tornar um museu sobre a colonização. Haviam escadas de madeira antiga entre o primeiro e o segundo andar e outra de ferro, curva, rangente e vazada, toda pintada de branco entre o segundo andar e o sótão. Essa escada ficava suspensa, acima da recepção, o que criava um longo pé direito na construção, entre o primeiro andar e o sotão. Eu subi até segundo andar, acompanhada de uma funcionária e um funcionário, e acessei os quartos, para procurar um local para abrigar minha exposição fotográfica sobre as famílias da região. Os quartos estava cheio de coisas, caixas e poeira. Nesse corredor do segundo andar, onde desembocava a escada de madeira, podíamos ver os lambris do teto da cozinha, pois havia um vão nessa parede, onde antigamente provavelmente haveria uma portinhola. A funcionária que me acompanhava ao se deparar com essa visão aérea da cozinha, resolveu que ali seria o local ideal para a exposição, porém, estava também cheia de coisas. A cozinha era uma área anexa do primeiro andar, com grandes janelas de ferro cobrindo metade de suas paredes. Descemos e saímos da casa, circulando a cozinha por fora até a sua porta externa. O funcionário ficou dentro da casa, junto com a recepcionista do primeiro andar, separando uma caixa de fotos históricas que eu havia trazido para expor. Era noite e algo naquela cozinha me causava calafrios, ,mas ela cismou que lá seria o local ideal, e por isso queria entrar lá. Tentei demovê-la dessa ideia, mas foi e vão. Ela abriu a porta e entrou. Ela me chama, mas digo que estou com medo de haver bichos ali dentro. Ela fecha a porta e tudo o que pude ouvir em seguida foi um grito terrível e ver pelas janelas que algo se movia entre o volume de coisas ali guardadas. Corri para dentro da casa a fim de avisar a ao funcionário e a recepcionista que algo terrível aconteceu. Eles estavam no sótão, buscando mais caixas. Subi todas as escadas, mas no meio da última, fui tomada pelo pânico, pois tenho muito medo de altura. Essa era a escada velha de ferro vazado, que me permitia ver ao longe o chão da recepção. Ao me ver paralisada, eles vieram correndo e o funcionário me convenceu a seguir, para acompanhá-los. Eles não haviam ouvido nada lá de fora e nem sentem falta da outra funcionária. Fico atordoada e desconfio de minha sanidade, Vejo ao longe os lambris da cozinha e não há mais ninguém lá dentro. O funcionário e a recepcionista me acompanham nos outros quartos. Eu não toco no assunto do que aconteceu lá fora. Não percebo, mas de repente ele não está mais ao nosso lado. Um novo grito vindo do quarto ao lado, que agora está com a porta fechada. Percebo que ele deve ter ido ao quarto ao lado para explorar e se fechou sozinho dentro. Percebo que o perigo acontece quando estamos sozinhos em um cômodo e fechamos a porta. Uma névoa densa atravessa para o corredor através da fresta entre o chão e a porta. Eu e a recepcionista descemos as escadas enquanto elas estalam e se desprendem. Sinto algo pegajoso em minhas mãos e percebo que escorre sangue pelas suas ferragens brancas. Eu e ela chegamos ao primeiro andar. Eu estou horrorizada, porém ela permanece plácida. Estou desesperada e digo que vou embora desse lugar. A recepcionista me pergunta como está a organização da exposição, como se nada estivesse acontecendo. No primeiro andar, tudo parece normal, com o computador da recepção ligado, o telefone tocando, os folders turísticos organizados em seu display e sua longarina azul quebrando o branco vazio do espaço. Pergunto se ela está louca e se não percebeu que os outros estão mortos. Ela fica nervosa e diz que não posso a deixar sozinha ali. Eu corro para a porta e ela me segue, avançando violentamente contra mim. Ela tenta me trazer novamente para dentro da casa, mas consigo me desvencilhar. A casa está tremendo e dentro se ouvem gritos agonizantes como se estivesse tomada por uma multidão, apesar de não haver ninguém vivo lá dentro. É como se a casa estivesse enlouquecida por estar vazia. Nos arrastamos entre agressões até os fundos da casa, onde havia uma varanda. Num momento em que consigo me impor na luta, a agarro e a jogo para dentro do imóvel. Ela se desespera, pois sabe que se eu fechar a porta será o fim. Ela agarra-se a porta, que estou quase fechando, olha no fundo dos meus olhos e me implora que eu não a tranque ali. Eu empurro seus dedos. A porta bate e por segundos sinto um prazer de morte que desconheço. Vou para o posto de gasolina e volto com dois galões de combustível. Termino a minha noite contemplando a casa pegar fogo enquanto gritos de centenas de pessoas de tantos séculos rasgam a noite, até que tudo se torna apenas cinzas e silêncio.

Escrever nua e como me mataram
Enviado por Escrever nua e como me mataram em 19/06/2019
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