O TRIUNVIRATO JUNINO
O TRIUNVIRATO JUNINO
BETO MACHADO
Não tenho intimidade com TUNICO nem com JOÃOZINHO, mas PEDRINHO e eu mantivemos amistosas interações. Toda vez que o clima intenciona injetar alguma dúvida no meu pequenino pote de certezas, eu recorro a PEDRINHO, via zap. E a resposta é imediata... Imediata e confiável. Por outro lado, não posso afirmar o mesmo sobre seus dois correligionários juninos: TUNICO e JOÃOZINHO.
No meu primeiro pedido de arranjo matrimonial TUNICO me deixou a ver navios, aos cuidados do instinto masculino e da intuição de um jovem inexperiente de vida conjugal, que era eu.
É evidente que, diante do indeferimento do requerido, ficaria tudo mais difícil. E ficou. Meu primeiro enlace, sem a benção do Padroeiro, se desfez precocemente.
O furor da juventude nos leva a dividir a culpa dos nossos insucessos com alguém... Coloquei na conta de Santo Antonio o meu fracasso, sem levar em consideração a minha inaptidão naquele momento.
Meu resgate por parte da minha família de origem foi providencial. Meu corpo planava, sem minha mente saber como retornar à terra. Torcia para que os dias passassem velozmente.
Sem nenhuma sombra de arrependimento da aventura anterior, quase me embaracei em outra investida. Desta feita, não recorri ao auxilio do santo casamenteiro. Ainda estava escamado com o primeiro susto. O ponta pé inicial dessa partida, no sentido de formatar mais um caso amoroso, foi numa festa junina, ao ar livre, na badalada Praça do Palhaço, logradouro público onde se confraternizavam os moradores dos sub bairros limítrofes, de Campo Grande como S. Geraldo, Pedregoso, Sta Cecília, S. Jerônimo, Sta Inez, S. Pedro e S. Paulo, esse último a quem a praça pertence.
Minha irmã mais velha, Ana Maria, minha confidente de plantão, brincante de uma turma de dança de caipira, também conhecida como dança de quadrilha, me apresenta uma amiga sua, vinda de longe para assistir a exibição e competição dos grupos que mantém vivas a arte e a cultura do meu querido Bairro Cidade, desde o tempo do Brasil Império.
O Dia de S. João ainda traz um certo clamor no coração das pessoas simples do subúrbio carioca; e Campo Grande não foge a essa regra. Sua origem rural explica essa evidência.
Sabrina, que meus olhos classificaram de um “pedaço de mau caminho”, relutou bastante em aceitar meu convite para tomar um “drink” comigo, pelo menos enquanto minha mana se aprazerava, suando a fantasia de caipira, dançando e encenando uma peça do teatro rural, escrita por Artur Azevedo. Mas a relutância feminina quase sempre é quebrada, ao se confrontar com a perseverança de um homem resiliente e sem pressa para conquistar seus objetivos. E foi assim que se deu com nosso jogo amoroso: recusa dali, insistência daqui; recusa de lá, insistência de cá. Pois do diálogo é que surgiu a luz.
Barraquinhas de guloseimas e de bebidas condizentes com o clima da época, espalhadas ao redor da praça começavam disputar a clientela, fazendo de tudo para fidelizá-la. Alguns mais irreverentes gritavam com sotaque caipira, invocando nomes conhecidos, publicitando acontecimentos de cunho pessoal, como se fosse um pasquim sonoro. Altas gargalhadas rendiam ao pregoeiro das melhores fofocas a pretendida aglomeração em volta de sua barraquinha.
Conhecedor, que sou, dessa estratégia comercial, típica de festas profanas, cuidei de me resguardar e tirar Sabrina daquele furdunço.
O boteco do Luiz, na “última rua” do loteamento, nos recebeu com um ar silencioso, que mal se poderia crer na existência de uma grandiosa festa junina a menos de quinhentos metros dali. Sabrina demonstrou gosto pelo ambiente tranqüilo. Vesti esse sentimento dela como quem veste um capote que alivia o frio intenso. Depois da segunda cerveja Sabrina me mostra sua preocupação de Ana Maria não lhe encontrar no lugar onde a deixara. Luiz, dono do boteco, fazendo jus ao apelido de “ouvido de lagarto”, chama o filho Felipe e resolve o problema.
Felipe encontra Ana Maria bem no final da sua apresentação e lhe transmite o recado, mandado por mim. O frio inaugural do inverno estava de lascar o cano da bota, diria um gaúcho trajado a rigor. Luiz traz a terceira cerveja e uma garrafinha de guaraná caçula cheia de quentão. Cortesia da casa.
Tava evidente que depois da terceira cerveja as mãos dos “pombinhos” procurariam um modo de se aquecerem mutuamente. E conseguiram. Das carícias mãos nas mãos vieram os beijos.
Mesmo sem ostentar fama de galanteador ou de namorador contumaz, meu comportamento colaborou para que minha juventude não fosse marcada por grandes dificuldades para conquistar uma namorada.
Sabrina e eu namoramos durante um tempo razoável, o suficiente para madurecer a idéia de morar juntos. Tempo que foi alongado devido a insistência de Sabrina em não querer ter filhos.
Mais uma vez minha inexperiência me deixou a ver navios, sem binóculos.