MENTE PERTURBADA...OU FALSA ALEGRIA?

Nasci muito depois, mas ouvi sobre isto, li reportagem séria e pesquisei antes de "cronitizar"........ (Algum leitor conviveu com Adão e Eva, Alexandre da Macedônia ou Colombo? Não, mas pode falar muito bem sobre eles.) ----- No tempo de um simpático mineiro riso fácil de nome atravessado, famoso internacionalmente como o DESBRAVADOR de "50 anos em 5", amado Presidente da República, havia interessante programa de televisão. O 'hospedeiro', digamos assim, o dono do programa divertido ficava sentado num banco de praça e recebia os 'hóspedes', ou seja, PERSONAGENS devidamente caracterizados que em poucos minutos contavam suas ESTÓRIAS de vida, fossem momentos alegres ou mazelas. (Talvez não: mazelas geralmente as pessoas preferem ocultar ou negar, mesmo quando já de domínio público...) ----- Destacarei apenas um deles, assunto específico para o tema de hoje (vi filmagens da época). MENDIGO maltrapilho - bota maltrapilho nisso! - rasgadão, porém posudo, esticado, e, no principal, linguagem sofisticada e corretíssima. Se estivesse bem vestido, tudo pareceria ao espectador verdades incontestáveis. Dizia-se compadre do médico urologista presidente, padrinho de suas filhas mocinhas, contava intimidades, elogiava as refeições do palácio (galinha com quiabo, angu amarelo, costelinhas de porco, jabuticaba como sobremesa ou lanche, queijo branco & goiabada, bolo de fubá, ambrosia - que delícias!), bailes de gala /presidente 'pé-de-valsa'/ e muitas viagens de avião. A família de JK e o narrador sempre junto. Citava também como amigos íntimos os dois cronistas sociais da época, que se orientavam com ele e somente depois escreviam em bons jornais sobre a elite do país (atual classe A) - um árabe carioca e outro de origem catarinense. Mentira deslavada! Não a mentira pura e simples, mas a metáfora de MENTE PERTURBADA pela miséria, cada vez mais intensa no povo brasileiro. A ilusão do "querer ser e ter sem poder". O popular "comer sardinha salgada e arrotar salmão temperado ao uísque". Ponto alto da comicidade (excelente ideia do escritor) era quando o mendigo, pernas cruzadas, esticava as meias. "Esticava?" Que meias? Apenas o cano das meias, inteiramente solto da parte inferior; era o momento mais esperado pelo espectador, gargalhada geral nas casas, em horário noturno, muita a-le-gri-a... Miséria ridicularizada no anedotário televisivo. Ele acreditava em suas próprias fantasias. ----- Uma AMIGA me contou sobre um cidadão versátil que morava em casa próxima, por isso facilmente frequentava certo ambiente coletivo e religioso. De acordo com a área de trabalho da outra pessoa, ele "era" (dizia-se e só descoberto cerca de 30 anos depois) formado naquele curso superior, mas logo ao início não gostara da profissão, exerceu somente um mês e largou. Incinerara diploma e fotos da formatura. Pedia segredo. Para a primeira ouvinte, verdadeira técnica de enfermagem, falou ser médico, deu até número de CRM, com a frase auto ilusória: "Pode conferir..." Mais adiante, perante outros, "era" dentista, fisioterapeuta, advogado, administrador, arquiteto, professor de idiomas estrangeiros (não citou javanês) etc. etc. etc. Só não descobriram se contara se "era" engenheiro porque o verdadeiro pouco aparecia, viajando ao exterior a trabalho... Uma tarde, uma alma piedosa comentou sem malícia alguma: "Como é que um homem de aceitável aparência física, embora hoje mal vestido, perto de 50 anos, vive desempregado, cultíssimo, formado em........." Aí estourou a bomba! Alguém assegurou que ele nunca trabalhara em nada um só dia na vida... Ele "era" tudo??? Um puxa-saco ou covarde ainda o defendeu, que poderia ter feito três cursos ao mesmo tempo - manhã, tarde e noite. Mas há cursos de horário integral, medicina, por exemplo. E nunca duas faculdades públicas juntas. Três particulares , filho de mãe auxiliar de enfermagem, analisemos, nem dinheiro para uma só mensalidade haveria... Aí, minha AMIGA resolveu fazê-lo calar a boca. Improvisou um assunto sem pé nem cabeça e torceu a conversa, especialista em ficção multipolar, sem mencionar palavra-chave para o campo da psicologia. O idiota caiu na "casca de banana" da vaidade e se disse formado, mas- como sempre, era segredo - ninguém poderia saber, nada de pedirem consultas. ELA imitou um famoso chef de cozinha francês, radicado no Brasil, eterno sotaque: "Marrrrravilhoso! Qual a sua linha de trabalho? Charcot, Freud, Jung, Lacan (o fulano, agora trêmulo, começou a empalidecer e se apoiar em mesa próxima)". ELA quis citar uma figura feminina e sem querer, porque sabia, confundiu a letra M inicial, esqueceu o nome certo por segundos, citou uma pintora e estudiosa admiradora de... orquídeas. Margareth, e não a cientista Melanie. Ele não a corrigiria... O fulano ficou nervoso, alegou campainha (ELA não escutou nada) e ficticiamente foi atender no portãozinho, frente do terrenão, a relativa distância. Não mais apareceu no ylê durante algumas semanas. Acabou estória de formaturas! ----- Quando a novela das 18 horas é histórica, assunto anterior a maio/1888, geralmente os filhos brancos dos grandes fazendeiros estudam Direito e citam a faculdade no largo de São Francisco, "Arcadas", prédio em estilo greco-latino, São Paulo-capital. Existe no Rio de Janeiro também um largo de São Francisco, faculdade federal em prédio com igual figura, a diferença é ali ter existido por muitos anos curso de engenharia, mudou para a Cidade Universitária e no prédio desocupado das réguas T instalaram ciências sociais em geral. Assim, minha AMIGA dá corda quando alguém inventa que estuda no largo de São Francisco e vai se formar 'adEvogado'. ELA banca a tolinha que acredita, em seguida fala de ponte aérea (ainda usam tal expressão?), aeroporto de linha doméstica, pergunta o preço... e desmascara o cidadão. Ainda ironiza: "AdEvogado? Uma letra a mais, nova sílaba formada?! Coitado!!! Anel mais caro!" ----- Com certa dupla, também uma estória engraçada. Doido e doida cordiais, ambos com idade muito acima de 40 anos, durante logo tempo faxinaram isoladamente a casa de minha AMIGA que não poderia mais fazer serviços pesados. Pagamento em dinheiro, almoço farto e chuveiro quente - pediam e sempre levavam o sabonete recém-estreado. A mulher vinha, contava que o homem "era" (de novo?) formado no mesmo curso de minha AMIGA, faculdade com 12 opções de letras. Diplomou-se, mas não gostou (mais um?) de lecionar para garotada de escola pública, engavetou diploma. É de bom tom respeitar-se o falante, mas tudo tem limite. Aí a fulana pedia "emprestada" uma gramática, sorriso cínico de má fé, devolver jamais, a dona do livro negava sob um pretexto diplomático; pedia então.............. longa pausa em que pensava o que inventar pedir... uma lista de coletivos para o filho ainda no curso primário. Em outra ocasião, o faxineiro vinha, invertia tudo, que a tal mulher "era" formada etc. etc. etc. Mesma coisa, diferença nenhuma - ele pedia a gramática, sempre negada, e como alternativa uma lista de... coletivos para si próprio. Bom, a doida sumiu, o doido ficou. Ele resolveu então dizer que passara em segundo lugar numa faculdade estadual (sempre de letras), mas não havia dinheiro para o ônibus, desistiu - em minutos, ora dizia ter cursado cerca de um mês ora nem matrícula concretizou - mesma opção do curso de minha AMIGA. Claro que desde sempre ELA percebera muito despeito e descarado olho-grande, que ao longo do tempo tinha sido incomodativa com ambos... Perdeu o controle: "Mas você já não é formado há muitos anos? (Jogou a doida contra o doido.) Fulana me disse..." Ele se atrapalhou todo, gaguejou, argumentos foram embora, passou a falar mal da faculdade do Estado, aulas péssimas, e da federal onde ELA estudara. E agora já não queria letras, porque outra pessoa do lugar começara a estudar história, porém o doido não queria ser "professorzinho" e sim um "historiador". Não sabia o que era, além de palavra bonita, mas queria! Inscrevera-se num vestibular gratuito de comunidade que encaminha os aprovados com bolsa integral para as particulares, sonho dele estudar na universidade católica (tradição medieval - ele não sabe pois não insulta de instituição velha e trapaceira). Ambiente de super elite social, ir para a cantina comer misto quente e tomar sucos; misturou assuntos ilógicos, aos gritos: "Levar marmita é pagar mico! Mico! Mico!" Ora, se não tinha dinheiro para ônibus e faculdade estadual bem mais perto de casa, como iria para esta outra, muitíssimo mais distante? E qual a relação "sala de aula / cantina ou marmita"? Atiçou a onça fora da jaula com vara curta: "Você quer estudar ou comer e beber na cantina granfina?" ELA mentalizou bullying: diferenças sociais-ambientais-culturais, educação em amplo sentido, costumes, trajes, cor da pele... mas teve pena do infeliz e não falou além da conta. Ele soltou para ELA todos os palavrões existentes, mostrando grande frustração e inferioridade, e disse que sempre a detestara: "Vinte aos de ódio!" Saiu da casa dela com gestos de quem tira poeira da roupa. Reação dela: riu! A partir daí, coincidentemente, nas entrevistas de destacados artistas globais, diversos se declarando portadores de marmita, ou por questões de saúde ou escolha alimentar. Interessante...

Fica uma pergunta no ar:

Estas pessoas (pessoas?) tão transparentes e imbecis pensam que enganam o mundo?

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LEIAM meus trabalhos: "A vassoura... mentira, "oitavo" pecado capital" e "Má fé ou baixa escolaridade?"

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 11/06/2019
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