O que podes fazer por mim?-
BVIW
 
Aquele dia quando cheguei em casa, digo em meu apartamento, onde moro de aluguel, era o nosso primeiro dia ali. Eu estava me sentindo “rica” e logo ao descer do carro fui surpreendida: um homem estirado na calçada, um corpo imóvel que repousava como se estivesse em um quarto. Subi e ao olhar da sacada, senti que deveria fotografá-lo, para posteriormente escrever uma poesia sobre desigualdade social, alguma coisa do gênero. ​​Então peguei o celular e registrei, lógico que fiquei comovida com aquele ser vulnerável, lá embaixo, eu em cima olhando, aproveitando a ocasião e usufruindo do cenário  que me renderia a escrita de um poema, talvez um soneto. Eu nada fiz por ele, não ofereci água ou algum alimento, não o cumprimentei, agi como a maioria da sociedade, desprezando e ignorando aquele ser humano que possui modus vivendi distinto do meu. Ele foi embora, nunca mais o vi. Fiquei a pensar o quanto minha postura foi egoísta e insensível.  Por que somos tão indiferentes? Por que a miserabilidade do outro já não nos choca como antes? Será que perdemos a consciência de nossa própria ignorância? Ou invertemos a lógica do ter pela do ser? Eu não tenho respostas para todas as perguntas... Mas aprendi que posso e devo fazer algo pelo outro.