Evocando o passado

Acreditava que cada pessoa tinha o seu modo peculiar de evocar o passado, às vezes de forma parecida com a madalena embebida num xícara de chá como fez Proust. Ele tinha vário macetes, como a música e os álbuns de fotografias, além das expressões antigas. Era tiro e queda para lembrar e reconstituir o passado. Usando esses macetes de repente surgia uma sensação de "déjà vu" que induzia às lembranças. Um desses macetes eficientes era também contemplar um velho quadro que um pintor da terrinha tinha pintado e presenteado seu pai. Era um dos únicos objetos que possuía da casa do pai. Esse quadro, que retratava um barquinho no mar, uma pintura simples, ficava, na aniga casa do pai, na sala de jantar perto de um relógio parado qe fora do seu avô Al havia uma mesa e quatro cadeiras. Quando tinha os acessos de asma ficava ali sentado e fitando o quadro, esperando o pai chegar com a seringa e lhe aplicar uma injeção subcutânea de sor Heckel ou Elebecê. Então a asma dava tchau, as ele ficava tremendo que nem vara verde devido ao efeito da injeção, o coração aos pulos tocando timbalada. E continuava fitando o quadro, fantasiando que o barquinho estava singrando os mares de loucura, como dizia um verso do bolero "La Barca". Mas também ficava ouvindo o rebuliço da casa, aquele entra-e-sai da casa d pai e guardando tudo na memória.

Quando utilizava esse macete de ftar o quadro do barquinho, sempre ouvia u frevo de Antonio Maria sobre s carnavais do Recife. que começava assim, "!Ah saudade, saudade tão grande...", ele fazia lembrar dos entrudos da sua terra..

Era um prazer arretado para ele lembrar o passado, pergunta rindo aos seus botões: - A saudade mata a gente? Achava que não. Pegava um velho caderno e lia um verso que gostava muito de um cantador Antonio Pereira: "Saudade é m parafuso/ Que quando na rosca cai/ S´entra se for torcendo,/ Porque batendo não vai,/ E enferrujado dentro/ Nem destorcendo não sai". Ah, saudade. Inté.