O Relógio - BVIW
O relógio parecia mágico, sem programação alguma, e quando dava meia-noite, ele parava. No outro dia, Helenilma, a neta caçula de Dona Sônia, abria a caixa, dava varias rodadas no ponteiro e ele voltava a funcionar. Dona Sônia pertencia a quinta geração, da família Carvalho, e tinha uma lenda local, que o rancho onde morava, era assombrado. Ninguém queria trabalhar para eles, pois todo mundo que trabalhou lá, teve bicho de porco. Em alguns casos, o tétano e a grangrena, acometeram os pés, e houve amputação. De lá para cá, a fama cresceu, acabaram-se as criações, a lavoura, restando apenas, um lugar afamado pelos infortúnios da ignorância. Sim, porque o problema era a falta de higiene, nada do reino espiritual. Mas agora, o relógio estava dando sinais do além, nada bom! Helenilma intrigada, perguntou para Dona Sônia: - Vovó, é verdade que existe aqui no rancho, o fantasma sem pé? E dona Sônia, com um sorriso sem dentes, respondeu: - Não, minha netinha. É crendice do povo. E a menina não satisfeita, insistiu: - Acho que existe, pois ele está morando no relógio. Sabe, Vó, ele desliga as horas para dormir. De repente, o cuco saiu do relógio e com ele, uma mola quebrada.