Papo pós-morte
Sempre se reuniam nos fins de semana. Conversavam sobre todo tipo de assunto: política, futebol, boatos, evocações da terrinha e etce e coisa e tal. Mas só de vez em quando focava num assunto que achavam deprimente: a morte e o que sucedia depois dela - e se sucedia algo. Quando acontecia isso as opiniões variavam. Havia até um deles, ateu convicto que entendia que morreu, acabou tudo, era fim de papo, sem essa de vida após a morte. Era imediatamente contestado. A maioria achava que havia sim, um segundo tempo, ou seja, o julgamento e, claro, a sentença que poderia ser céu, purgatório ou o temido inferno. Alguns achavam que Deus era magnânimo e perdoava os pecadores, desde que não tivessem praticado crimes de morte, tortura, estupro e o escambau de maldades criminosa, os que não tivessem sdo totalmente maus na vida terrena.
Nua dessas raras discussões sobre esse tema que era sempre evitado, um sujeito que era caladão ficou meio cabreiro, chegando até a roer as unhas. Então alguém notou e perguntou a ele:
- Cabra véio, por que você ficou nervoso, vai diz o que tu acha que acontece quando a gente abotoa o paletó, vai fala...
Ele relutou mas resolveu falar:
- É que eu penso diferente de todos vocês, aliás, nem sei mesmo se penso, eu às vezes acho que a opinião da minha saudosa avó materna faz mais sentido,sei lá...
- E que danada de opinião era essa da tua avó, homem de Deus? -perguntou um deles.
Ele tomou o reto de uma dose de uísque caubói e falou:
- Vejam bem, quando eu era ainda adolescente unto com meus irmãos e primos gostávamos muito de ir pra casa da nossa avó. Ela era muito alegre e gostava de contar histórias, mesmo que em alguns pontos fosse muito severa. Certo dia eu estava metendo o cacete nos ricos da nossa terra, dizendo que enquanto eles viviam no confortoe roubando o povo passava fome, e que gente tão ruim como eles não sofriam castigo nenhum, nem gripe tinham e que era capaz quando morrerem de irem pro céu... Ela ouviu séria e na ora que nem caldo de cana fez sinal com a mão para eu me calar e afirmou:
- Você está dizendo u monte de besteiras, o que não é novidade. Menino, quando a gente morre nasce de novo. Quem foi ruim volta para ser castigado, quem foi miserável e sofreu volta para gozar uma vida boa. - E foi para a janela e chamou a mim e os outro se apontou para um aleijado que se arrastava em cima de uma borracha na calçada meio dia em ponto .e o sol a pino. Ela mostrando o aleijado disse:
-Tão vendo aquele sujeito se arrastando pelo chão no sol quente, penando. ele deve ter sido muito ruim na vida anterior e voltou par pagar o que fez de mau. Esses rios que você falou vão voltar para sofrer do mesmo jeito.
E o sujeito acrescentou:
- Pois é,, eu sei que à primeira vista é algo primário e absurdo, mas às vezes penso que é uma explicação lógica. Não estou absolutamente certo, mas que faz sentido faz. O que vocês cham?
Houve quem ficasse balançando a cabeça, outros rindo, mas ninguém contestou, Mudaram de assunto. Preferiram algo mas ameno: futebol e a crise. Inté.