Bella

Bella me olhou uma última vez antes de se afastar com o passo acelerado e barulhento de sempre. Fiquei observando enquanto ela desaparecia pela porta do banheiro.

Me perguntei se ela estaria disposta a viver algo novo

sem pensar muito em consequências.

Eu costumava a dizer que esse tipo de pensamento era o que afastava as pessoas dos finais felizes.

Mas quem era eu pra falar sobre finais felizes, quando eu não fazia idéia do que estava fazendo com a minha própria vida e passava a maior parte do meu tempo só, enfurnado num quarto escuro e abafado.

Bella tinha tornado tudo aquilo irrelevante, como seus olhos de tempestade e sua voz macia que faziam me pensar que estava tudo finalmente no lugar.

Ela voltou do banho enrolada numa toalha e com os cabelos pingando em suas costas como se não ligasse nem um pouco para a bagunça.

- No que você estava pensando? - Ela perguntou.

- Em nada muito importante. - Menti.

- Te conheço bem pouquinho. Mas pelo que eu sei, quando você fica muito calado é por que está pensando em coisas sérias.

- É impressão sua.

Bella sorriu apenas. Sem se importar com o meu laconismo.

- Você é o cara mais estranho que eu conheço. - Disse, sentando-se na beira da cama.

Antes que eu pudesse falaralguma coisa, a chuva começou a cair pesada do lado de fora, e um trovão ecoou pelo apartamento, como se o céu estivesse se partindo acima de nós.

Fechei as janelas e deixei apenas uma pequena fresta na que ficava no meu quarto, para que eu pudesse olhar a rua sem me molhar muito.

O céu estava preto e as pessoas corriam do lado de fora, tentando se esconder e se proteger da chuva.

- Pelo jeito vamos ficar aqui por um bom tempo. Não dá pra sair numa chuva dessas.

Bella deu uma risadinha e sussurrou.

- Como se você fosse sair pra algum canto, meu amor... Mesmo que não estivesse chuvendo, você ia arrumar alguma desculpa pra ficar em casa. Pode dizer o que quiser pra si mesmo a esse respeito... Mas nada vai mudar o fato de que prefere continuar fantasiando sobre um romance imaginário com uma mulher imaginária do que sair a rua.

No fim das contas, eu só existo por que você quer que eu exista.

Bella se levantou e deixou a toalha cair no chão.

Ela era maravilhosa. E ao mesmo tempo eu não conseguia descrever para mim mesmo os detalhes do seu corpo.

Fechei meus olhos e quando os abri novamente ela não estava mais lá.

Apenas a lembrança incandescente daqueles olhos claros como a realidade.

e intensos como a tempestade

do lado de fora.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 23/05/2019
Código do texto: T6654705
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