Escuridão

Sinto que ele me observa. O consigo enxergar pelo canto do olho, bem próximo a mim e não há nada que possa ser feito. Então é isso, se entregar sem lutar? Não quero acreditar que seja a mais fácil muito menos a única maneira. Existem outras. Sempre existe! Estou olhando para o teto neste exato momento e tudo está escuro. Luzes desligadas. Estou sozinho, mas sinto dois pulsos simultâneos. Duas batidas. Tum dum, tum dum. Passos em minha direção. Mais rápido, cada vez mais rápido. Algo está parado ao meu lado e nesse momento escuto apenas um batimento e tenho certeza que não é o meu. Estou morto? Não, minha respiração apenas parou por alguns segundos. Tento me levantar da cama e andar, mas minhas pernas não obedecem. Estou imóvel. As luzes se acendem e, antes que meus olhos pudessem se acostumar com a claridade, eu o vejo. Ele está sentado ao meu lado e com as mãos esbranquiçadas e frias, mexe em meus cabelos. Não consigo ver seus olhos, pois estão fechados, mas, se os visse, saberia de certo que eles viram coisas que nunca poderei ver. Coisas que não pertencem a esse tempo, talvez nem a essa vida. Na sua cabeça pousa uma coroa que mais parecia flutuar em sua crista. Suas vestes são amarelas e velhas, lembrando um rei que há muito foi esquecido; mas que, em contrapartida, está aqui há muito tempo. Meus olhos se fecham lentamente e não o vejo mais claramente. Porém, antes que eu pegasse no sono, ele aproximou sua boca do meu ouvido para que eu pudesse escutá-lo melhor e com uma voz rouca, disse : “eu o vejo no meu sonho”.