ENTRE GILETES, ALFINETES E ESPELHINHO
O último horário estava começando. As carinhas não estavam boas. Uma parecia carregar o vermelho no narizinho. Outra tinha dificuldade em se conter e parecia prestes a fazer qualquer coisa não permitida. Uma e outra esticavam um cochicho. Até uma menina sem problema de disciplina, parecia irritada.
Não demorou e alguém bateu na porta para falar com a professora. Uma aluna foi chamada. Outra foi conversar com um véu de cachoeira nos olhinhos e lá fora rasgou o vermelho do narizinho contando que a amiguinha que fora chamada estava com o bracinho todo cortado e ela queria saber da professora por que acontecia aquilo. Que ela gostava demais da amiga e não se conformava. Contou que as outras tinham tirado gilete, alfinete, pedacinho de espelho da bolsinha dela. E os pedacinhos de espelho estavam sujos de sangue.- Porque ela fazia isso, professora?!
A dona do braço cortado voltou brava querendo suas armas de volta; ou seja, seu alfinete, sua gilete, sua bolsinha. Mas um anjo os levou dali e enquanto ela pensava em peitar quem a sabotara, todos começaram a olhar para cima. E dezenas de bolsinhas pareciam flutuar no teto da sala e todos se agarraram às suas mochilas. A diretora aguardava a chegada da mãe da garotinha. Assim terminava o último horário, horário do pranto.