A Loba

A lua ia acima da metade e ela já se sentia mudar. Era impressionante como o belo satélite da Terra  mexia com seus nervos, sua libido, sua cabeça. Bastava que ele se tornasse mais arredondado para ela sentir-se mais poderosa, lasciva, livre. E musical. Até o seu caminhar ganhava uma cadência, um ritmo de dança, e, sem que se desse conta, se pegava cantarolando, com sua voz firme e quente de contralto.
Os homens à sua volta, que, normalmente, já a desejavam, nessa época sentiam-se mais encorajados a cortejá-la, conquanto ela parecesse mais suscetível a seus galanteios.
Então, quando a grande esfera amarelada surgia no horizonte, o felizardo escolhido parou o carro no meio fio para que ela entrasse, glamourosa e perfumada num vistoso vestido vermelho, deixando-o encantado, certo de que teria uma noite inesquecível.
Não foi.
Ele não viveu o bastante para se lembrar e ela, transmutada em loba pelos primeiros raios luminosos, acordaria em sua cama na manhã seguinte, nua, sem qualquer lembrança dos eventos de mais uma noite de luar.

 
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Uma Noite de Luar
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