O "Alienista" das Águas do Mel
Era uma vez,uma cidade pequena, bem do interior,cheia de muito verde,matas e águas por todos os lados. Muito calma, tranquila, ar puro,onde ainda borboletas amarelas e azuis pairavam nas flores. Só tinha um pequeno problema: não havia muitas flores a embelezando, como em outros lugares; vai ver que as pessoas preferiam respirar a fotossíntese do verde a apreciar o colorido de algum arranjo floral.
E mesmo com todo esse bucolismo,a população trabalhava e muito. Mas nunca perdiam a união ,a conversa do bar ou das rodas de chimarrão nos fins de tarde. Sempre aparecia uma fofoquinha,uma notícia local. Todo mundo ficava sabendo de tudo e de todos. Ou quase. As redes sociais ali não precisavam de internet.
Parecia que ia ser pra sempre assim essa cidade.Como todas do interior. Mas de repente,tudo mudou. Apareceu uma movimentação,aos pouquinhos. A cada dia ,se ouvia algo.Uns acreditavam,outros não,outros ficavam na dúvida - " será?" E nesse será e será , o disque-disque foi aumentando e aumentando. A população começou a ficar preocupada! Até a polícia entrou no meio! Mas nenhum suspeito da criação desse falatório ainda tinha aparecido.
Como nas histórias policiais ,todos são suspeitos até prova em contrário.A pessoa que estava inventando e soltando esses boatos como verdadeiros,estava se deliciando,porque achava que ia ficar impune.Uma coisa era certa: fazia parte da comunidade,pois acompanhava bem de perto todos os passos do seu alvo...sabia onde trabalhava,onde ia,quem eram seus amigos e parentes,onde fazia as compras,sabia se estava bem ou não e principalmente sabia que era muito inteligente e que precisava ser mais ainda nas armadilhas,porque queria de fato acabar com ela e com sua inteligência. Então era um plano que vinha sendo articulado há um tempinho,premeditado. E não media esforços para colocá-lo em prática. Queria deixá-la impotente , destruída,sozinha,desacreditada nas lojas,mercados,local de trabalho , entre os amigos e parentes ,até chegar ao último grau da sua vingança: a morte da sua vítima.
Agora,as pessoas já sabiam que era uma mulher o alvo dessa história macabra que estava se criando nessa cidade tão verdejante. E todos se perguntavam por quê ;não havia nada de problemas com essa pessoa, sempre foi da paz , assim como sua família. A dúvida,a desconfiança instalaram-se. A cada dia,a pessoa tinha que desmentir os boatos e lidar com frases pesadas sobre sua honra pessoal e profissional, calúnia e difamação. Até acusação de ladra estava escutando. Estava ficando ilhada,isolada. O plano macabro estava surtindo efeito.
E a comunidade também já sabia que tinha entre eles um psicopata(ou sociopata). Todos começaram a cuidar o que ouviam de ruim sobre ela ,pra ajudar a pegar o suspeito . Os mais antigos a conheciam e sabiam que não era nada disso - era uma pessoa honrada, muito querida e solícita . A coisa estava ficando um "enxame de abelhas" , uns diziam. O advogado mais experiente da cidade era consultado a cada pouco e só conseguia dizer que um B.O.(boletim de ocorrência) só podia ser feito se tivesse o nome do criminoso ou de quem espalhava essas frases como verdadeiras e até o momento não se tinha isso. Instalou-se uma corrida contra o tempo e a luta pela vida , então.
Uma corrente de pessoas boas apareceu para ajudar .Cada uma contava o que escutou e a polícia começou a fazer a investigação com ajuda da pessoa afetada.Um caso meio complicado,mas não impossível. Porque em um crime,sempre alguém ouviu ou viu algo,sempre fica um rastro ,uma prova solta por aí. E nesse caso,o autor das calúnias e difamações precisa de auxílio de comparsas para as tais divulgações. Não existe crime perfeito,ainda mais em pleno século XXI,com ajuda da internet,da polícia científica ,dos computadores que podem ser rastreados e qualquer pessoa pode ser achada ou descoberta. Pode levar um tempinho,mas uma hora a verdade aparece.Mesmo que essas mentiras só de dão no "boca- a- boca".
Enquanto isso,o ar puro e as borboletas raras continuavam a alegrar o verão .Os bem-te-vis ,tucanos e sabiás juntaram-se e nos fins de tarde, podia-se ouvir a algazarra deles nas árvores,brigando por um lugar .
Nesse meio tempo,foi sugerido que a vítima saísse da cidade,por precaução ,pois a sua vida estava em perigo. E também a investigação podia fluir melhor,sem a presença do alvo. Então,de longe,ela ajudava a polícia com suas informações colhidas e escritas em um caderno escolar. Pois pensava que se o pior lhe acontecesse,tinha tudo registrado. E isso já durava quase um ano.Depois que sua mãe falecera. A lógica era seu forte,os pensamentos rápidos estavam ajudando a entender o que tinha por trás dessa história sem sentido,maluca. Foi juntando as frases que escutava e voltando até ao passado da sua família,conseguiu formar um quebra-cabeça de suposições. E a única suposição cabível nos seus pensamentos era uma vingança criada por esse psicopata para atingir seu pai,por causa de negócios mal sucedidos no passado ,no qual fora supostamente enganado pelo seu pai. E mesmo sabendo que a vítima era uma pessoa honrada e tudo mais,queria que ela pagasse pelo que este fez com ele.Agora se sabia que era um homem,o criador de todo os boatos caluniosos e difamatórios sobre ela , na cidade. Mas ele ainda queria ficar como sujeito oculto,indeterminado,impune e transformá-la para sempre como uma pessoa transtornada,louca ,ladra,desonrada,mesmo depois de querer mandar matá-la.
O que ainda ninguém conseguia descobrir era a identidade desse psicopata. Todos conversavam entre si e se perguntavam mentalmente ," será que é você?"E a cidade das águas do mel não fora mais a mesma,por um longo tempo. Cada pessoa que chegava ouvia essa história quase irreal,ficando na dúvida se tinha acontecido isso mesmo ou era invenção de um povo pacato,para gerar turismo para a cidade. O fato era que quando saímos dessa cidade,ainda estavam procurando o sujeito dessas fake news e que a vítima ia enquadrá-la dentro da lei,depois de mandá-la para o hospital,quando descobrisse quem era e provar a insanidade do mesmo .