Viva Dona Liberdade
Estava meio deprimido, olhando pela janela a chuva que caía incessantemente, um toró.Adorava a chuca (era sertanejo), mas temia pelos moradores das encostas dos morros da capital. Sabia que a chuva era uma força da natureza e sí causava prejuízos devido a ambição desmedida e a irresponsabilidade dos homens, notadamente dos políticos e administradores públicos que não ligavam para o saneamento básico e permitiam construir nas encostas.
Mas o homem olhando a chuva, também divagava. Pensamentos iam e vinham nua espécie de confusão de sentimentos. Lembrou um verso de uma música de Jorge Ben (hoje Benjor): "Chove chuva, chove sem parar...". . Recordou de um colega de banco que fizera uma serenta para sua musa com uma radiola portátil em cima de um tamborete, na chuva, ele protegendo a radiola com u guarda-chuva e tocando um compacto co essa música. Riu saudoso.
Saltou para outros pensamentos e aí resolveu questionar sua atual preocupação com a Dona Liberdade.achava que estava sob ameaça. Saiu da janel e pegou um livrinho de bolso, já todo se esgarçando. Era a peça "Liberdade, Liberdade", de Millôr Fernandes e Flávio Rangel. Sabia até de cor certos trechos de tanto ler essa eça, principalmente a citação de frases, e releu algumas. Cecília Meireles: "Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda". Cláudio Manuel da Costa: "Liberdade ou nada!". Manon Roland: "Oh, Liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome". George Bernard Shaw: "Liberdade significa responsabilidade. É pr isso que muita gente tem medo dela". E rindo lembrou do bordão reacionário da antiga UDN: "O peço da liberdade é a eterna vigilância". Passou ainda por um verso do poeta Elouard?: "Graças a uma só palavra/ Reconheço a minha vida/ Naci para conhecer-t,/ E chamar-te Liberdade". De repente lembrou-se da frase que mais gostava sobre a Liberdade. Era de Machado de Assis e estava copiada num velho caderno escolar, foi buscá-lo e leu: "A Liberdade não é surda-muda nem paralítica. Ela vive, ela fala, ela bate com as mãos, ela ri, ela assobia, ela clama, ela vive da vida".
Depois voltou ao lirinho e leu um verdo do Hio da Independência: "Liberdade, Liberdade/ Abre tuas asas sobre nos,/ Das lutas, nas tempestades/Dá que ouçamos tua voz...".
Sentiu vontade de tomar uma lapada de cachaça, foi à cozinha encheu u copinho de PItu, derramou a parte do santo, tomou, fez a caretinha de praxe, e sentiu vontade de tirar um cochilo. Sonhou com Dona Liberdade, era a sua grande musa. Inté.