A CASA DA RUA GÖRLITZER - PARTE DOIS

Era uma mansão de três andares. Metade dela estava reduzida a ruínas, a outra metade intacta.

Karl ficou olhando para a casa por alguns instantes como se estivesse hipnotizado. Depois começou a caminhar para ir embora e então parou olhando para a casa novamente. Algo naquela casa lhe chamou a atenção ele não saberia dizer no que era.

Começou a caminhar em direção à casa, era perigoso ficar no meio da rua por tanto tempo, os soldados da meia lagarta poderiam voltar.

Não foi preciso abrir o portão, havia um rombo enorme no muro. Karl passou por ali pulando uma pilha grande de entulhos.

Surpreendentemente o jardim não tinha sido muito afetado pelas explosões que devastaram a cidade.

Karl subiu uma escadaria até uma pequena varanda.

A porta era enorme e também estava intacta. Ele tentou a maçaneta, está cedeu mas a porta não se abriu e ele percebeu que havia móveis bloqueando do lado de dentro impedindo que a porta se abrisse. Teria que achar outra maneira de entrar.

Ele caminhou silenciosamente até a parte em ruínas e conseguiu entrar na casa com uma certa dificuldade.

Karl viu- se no que parecia ser uma biblioteca. À esquerda há ia uma prateleira abarrotada de livros tão grande que chegava até o teto. Os livros ali estavam intactos. À direita eles não tinham tido tanto a sorte. Havia uma montanha de livros misturados com escombros e restos de móveis.

Karl examinou alguns livros, mas não conseguiu encontrar nada que lhe chamasse a atenção. Aqueles livros agora eram seus, pois certamente ninguém reinvindicaria a posse. Aliás, ele pensou, toda a cidade era sua. Ele podia entrar em qualquer lugar e pegar o que quisesse.

Karl viu alguns quadros na parede, viu outros destruídos pelo chão. Ele gostava de arte, seu pai tinha uma galeria em casa. Ele gostava mas não entendia nada sobre quadros, não conseguiu identificar nenhuma pintura famosa, até porque se aquela fosse uma casa de judeus, não encontraria ali nada que não fosse lixo.

Karl saiu da biblioteca a rindo uma pesada porta tão grande quanto aquela da entrada e viu- se em um saguão enorme. Vou os móveis que estão avançando bloqueando a porta. Ele achou estranho. Aqueles no eis pareciam ter sido colocados ali de propósito. Se fosse esse o caso, haveria alguém naquela casa?

Ele colocou a mão na cintura e sentiu o cabo da Bereta. A tirou dali e a colocou no bolso de dentro do casaco.

Aquela casa, apesar de estar danificada pela metade parecia ser enorme e devia ter uma infinidade de tesouros que ele certamente iria querer para si. Isso se não fosse uma casa de judeus. Karl achava que não era.

À sua frente seguia um vasto corredor, à esquerda uma grande escadaria ia dar no andar de cima.

Karl olhou para cima e de repente fez uma coisa que ele sabia ser imprudente mas não pode evitar:

-Oi. Tem alguém aí?

Sua voz pareceu ecoar em meio ao silêncio que desabava sobr a casa como uma mortalha. Karl sentiu- se estremecer.

A casa parecia vazia. É claro que estava. A maior parte da cidade estava vazia, as únicas pessoas que ocupavam as ruas e a maioria das casas eram cadáver que estavam apodrecendo. Era uma guerra lá fora e quem estava na cidade estava encondido em algum canto mofado.

Mas então um pensamento o atingiu como uma flecha:

“ Então quem bloqueou a porta com aqueles móveis?”

Talvez alguém tentando se proteger antes que as bombas caíssem sobre Berlim.

“ Ou talvez alguém que esteja na casa. “

Karl sacou a Bereta e foi subindo a escada, foi fazendo isso com calma, bem devagar. A estrutura daquela casa estava abalada pelas bombas, aquela escada poderia desabar a qualquer momento.

Chegou ao andar superior. Estava mais escuro do que o térreo.

Karl vasculhou esse andar remonta a ponta até onde foi possível. Ele ficou com medo de se aproximar da parte em ruínas, mas vencido pela curiosidade se aproximou e olhou para baixo.

De repente Karl escutou um ruído e olhou para trás assustado. O barulho pareceu ter vindo do andar superior e ele podia jurar que eram passos. Havia alguém no segundo andar da casa.

Lentamente ele foi caminhando em direção à escada. Estava com medo, seu coração palpita a e ele estava tremendo um pouco.

Parou diante da escada e ficou ali olhando para cima.

A casa agora estava mergulhada no mais absoluto silêncio. Os únicos sons vinham do lado de fora, bombas que explodiam periodicamente, tiroteios que se ouvia vindos de longe.

Karl apontou a arma para a frente e foi subindo a escada. Os degraus começaram a ranger ante ao seu peso e ele pensou que fosse despencar a qualquer momento.

Não despencou. Galgou a escada e parou no patamar. O hall estava vazio. Aquele andar da casa estava em deplorável estado.

Karl agora descobriu que estava com medo. Havia algum ali. Era uma certeza que invadia sua mente. Ele quase podia sentir a presença, quase ouvia a respiração.

Ele apontou a arma para a frente e foi caminhando. O piso de tábuas rangia embaixo dele. Ele parou. O piso tangue. Em algum ponto em meio a penumbra que dominava o segundo andar .

Karl parou, seu coração palpitou.

-Quem… quem está ai.

O piso rangeu de novo. De repente um vulto saiu de uma dar portas do corredor e correu para a parte dos fundos do mesmo.

Karl apertou no gatilho. O tiro parou em algum ponto na parede e ricocheteou, o estrondo foi ensurdecedor, pareceu encher toda a casa, fez sua cabeça latejar e seus tímpanos pularem. Karl deu um passo para trás.

-Quem está aí?

Silêncio. Karl colocou o dedo no gatilho pronto para dar outro tiro mas lembrou- se do estrondo e desestimular da ideia, seus tímpanos ainda ouviam alvo como badalar de sinos.

“ Coragem. Tenha coragem.”

Não seja cagão, diria seu pai.

Ele começou a caminhar para frente. Foi até o final do corredor. Ali havia um quarto apinhado de quinquilharias. Havia móveis antigos, tábuas velhas, latas e outras coisas mais.

Karl começou a vasculhar o quarto e de repente, próximo a algumas caixas viu um pé calçado em uma sandália velha.

Levou um susto e deu um salto para trás. Apontou a arma e disse:

-Estou te vendo! Saia daí!

O dono do pé não se moveu.

-Saia ou eu juro que atiro e mato você.

Alguém se levantou em meio às quinquilharias e veio caminhando em sua direção. Karl afastou- se mais para trás, o dedo no gatilho, pronto para atirar.

O dono do pé saiu de trás das quinquilharias e Karl arregalou os olhos.

Era uma menina.

Ela estava usando um vestido esfarrapado, um casaco mais esfarrapado ainda, os cabelos desgrenhados. Estava suja e magra, muito magra.

Karl abaixou a Bereta mas então teve certeza de que a menina era uma judia e apontou a arma novamente. A menina gemeu e colocou a mão na frente do rosto num gesto suplicante.

Karl ficou ali por alguns instantes, completamente sem ação. Então abaixou a arma. A me uma olhou para ele e abaixou a cabeça.

-Você é uma menina!

Karl não se lembrava da última vez que tinha visto uma menina. Aquela era uma menina grande, devia ter entre doze e treze anos. Ele viu que ela tinha peitos, eram pequenos mas eram peitos.

A menina permaneceu em silêncio.

Era uma judia, ele se lembrou, e os judeus eram os responsáveis por todo aquele caos. Ele odiava os judeus, eram lixos, e o fuhër dizia que eles deviam ser exterminados.

Karl olhou para a arma que tinha na mão. Ele podia exterminar aquela menina ali, aquela judia suja, ninguém ia ligar, ninguém iria notar. Ele estaria fazendo um favor para a nação, afinal ela não passava de uma judia suja, uma vida indigna de viver.

Karl sorriu e apontou a arma.

-Tire a roupa.

A menina olhou para ele e Karl viu pela primeira vez que os olhos dela eram azuis como o céu. Eram os olhos mais lindos que ele já tinha visto em toda sua vida. Havia espanto naquele olhar.

-Você me ouviu sua judia suja. Tire a roupa!

A menina permaneceu imóvel, como se não soubesse o que fazer.

Karl deu um tiro e poderia tê-la matado. O tiro pegou na parede. A menina deu um pulo e começou a chorar.

-VOCÊ ME OUVIU SUA CADELA! TIRE A SUA MALDITA ROUPA!

A menina começou a se despedir. Era a primeira vez que Karl viu uma menina pelada. A visão o agradou mas nem tanto, ele esperava mais. Achou que não havia nada demais naquilo. A menina cobriu os seios né a vagina com as mãos. Karl viu um tufo falo de pêlos pubianos no mesmo lugar onde as mulheres o tinham.

A menina ficou ali parada, tremendo de frio e de medo, lágrimas escorriam de seu rosto e caiam no chão.

Karl sentiu-se mal. Não era a sensação que ele esperava. Onde estava o triunfo, a glória em ser superior àquela criatura pelada parada ali diante dele?

Ele abaixou a arma e saiu correndo.

NO DIA SEGUINTE

O dia amanheceu sob uma pálida camada de Neve e um frio congelante.

Karl colocou algumas roupas de sua mãe e alguns cobertores dentro da mochila, além de alguma comida que havia conseguido pegar no armazém da rua Görlitzer, jogou nas costas e saiu.

Ele levou mais tempo do que o habitual para chegar até a rua Görlitzer porque o vento cortava como afiadas lâminas, mas acabou chegando.

Ficou parado diante da casa por alguns instantes e então entrou.

A menina estava no mesmo quarto em que ele a achará e não tentou fugir. Ficou ali sentada com a cabeça baixa, e Karl chegou a achar que estivesse morta, mas não estava. Estava tremendo de frio mas não estava morta.

Karl tirou um casaco de dentro da mochila e mostrou à ela. A garota o fitou desconfiada. Karl atirou o casaco aos seus pés e ela o pegou vestindo- o instantâneamente. Karl também atirou luvas e meias e os cobertores. A garota se envolveu neles e ficou ali olhando para ele, os olhos intensamente azuis.

Karl sentou-se com as costas na parede e pegou os pães que tinha trazido.

-Você está com fome?

Ela não respondeu.

Ele se levantou aproximando- se e a garota se encolheu.

Karl colocou os pães devagar aos pés dela e afastou-se. A garota pegou os pães e os devorou.

Os dois ficaram ali por um longo tempo se olhando. Karl quebrou o silêncio:

-Me desculpe por ontem. Eu sinto muito.

Ela não disse nada.

-Você mora aqui?

Ela confirmou com a cabeça.

-Morava aqui antes da guerra?

Ela confirmou.

-Então você deve ser bastante rica. É uma casa grande.

Ela não disse nada. Karl perguntou:

-Você é judia?

Ela confirmou.

-Qual é o seu nome?

Ela ficou em silêncio.

-O meu é Karl.

-Judith. Me chamo Judith.

- Eu sinto muito por ontem Judith.

- Você… você queria me matar!

- Não… eu…

- Onde você mora? O que está fazendo aqui?

- Moro a dois quilômetros daqui. Estou caçando.

- Você mata pessoas?!

- Não. Caço coisas e… comida.

- Quantos anos você tem?

- Onze. E você?

- Quatorze?

Ela comeu mais um pedaço de pão.

-Obrigada.

-Tudo bem.

Karl pegou um pedaço de pão e começou a comer com ela.

-Onde estão seus pais Judith?

-Os nazistas vieram aqui e os levaram. Eu me escondi e estou aqui.

- Eles os levaram porque eles são judeus. - Disse Karl.

- E o que tem isso?

- Os judeus devem se exterminados.

- E porque?

- Porque são a escória da sociedade.

Karl se levantou e pegou sua mochila.

-Eu vou voltar com mais comida.

Os dois se olharam por alguns instantes. Karl saiu dali.

Karl abaixou- se assim que viu os soldados arrombando o que restara da porta de sua casa. Por um momento ele pensou que um dos soldados ( e eram soldados alemães ), lhe visto, e experimentou uma sensação de Pânico. Começou a afastar- se dali arrastando- se entre os escombros que estavam espalhados pela rua.

Ele sabia que não voltaria mais para a casa.

Karl passou por um momento de dúvidas porque afinal de contas estava fugindo dos soldados nazistas e isso não estava certo. Ele deveria sentir-se se protegido ao lado daqueles que serviam ao Führer, mas não era isso o que acontecia.

Karl afastou-se dali e sentou-se em uma praça, um lugar desolado longe dos soldados. Ali ele chorou. Chorou por causa da guerra, chorou porque seu pai e sua mãe estavam mortos e ele jamais voltaria a vê-los. Agora ele estava sozinho no mundo e não tinha a menor ideia do que fazer, afinal era apenas um garoto de onze anos. A maldita guerra levara tudo o que ele tinha de mais precioso, a maldita guerra causada pelos judeus.

Tinham sido mesmo os judeus os causadores da guerra? Quem havia dito que sim? Seu pai. Hitler dissera e todos confiavam em Hitler, todos confiavam no poder do Terceiro Reich para salvar a nação e trazer de volta a pureza da raça ariana. E tinham sido os judeus que iniciaram a guerra. Mas Karl não se lembrava de nada que os judeus tinham feito para iniciar a guerra.

Talvez o grande Füher fosse louco. Karl lembrava- se do dia em que o vira pela primeira vez, quando o pai levara a família para uma cerimônia oficial do exército. Karl não gostara do homem e escondera- se atrás da saia da mãe. Há ia algo no sorriso do homem que o encheu de medo. Ele não saberia dizer o que era pois era apenas uma criança.

Mas se os judeus iniciaram a guerra, a guerra que acabou com tudo o que ele conhecia, a guerra que matou seus pais, então eles mereciam morrer.

Karl lembrou-se da menina, a judia que estava escondida na casa da rua Görlitzer.

Karl se levantou e começou a fazer o caminho de volta até sua casa, onde estavam os soldados alemães.

Karl levantou colocou a bereta no bolso do casaco onde achou que estaria mais segura e levantou as mãos assim que viu os soldados. Eles apontaram as armas tão logo o avistaram.

-EI! NÃO ATIREM! POR FAVOR! NÃO ATIREM!

Karl se aproximou dos soldados e parou.

-O que está fazendo aqui pirralho?- Perguntou um deles que parecia ter maior patente. - Esse não é um lugar pra ficar ficar brincando.

- Eu vi vocês aqui e precisava avisá-los.

- Nos avisar de que?

- Eu sei aonde tem uma judia escondida.

O soldado olhou para os outros e riu. Acendeu um cigarro,caminhou até Karl que permanecia com as mãos levantadas, soltou a fumaça na cara dele e disse:

-Não existem judeus eram escondidos por aqui pirralho. A maioria deles estão mortos.

- Essa não. Ela escondeu quando os soldados levaram os pais dela. É uma menina. Tem quatorze anos, se chama Judith e está escondida na casa da rua Görlitzer.

O soldado riu.

-Sabe o que eu acho? - Disse ele. - Eu acho que você é um judeuzinho de merda e está tirando onda com a minha cara.

- Não! Eu juro que é verdade! Ela está lá! Eu mesmo a vi!

- Certo. Vamos fazer o seguinte: você vai me levar até lá, e se não for verdade vou meter uma bala na sua cabeça de merda. E abaixe as mãos.

Ele olhou para um dos soldados e disse:

-Hanz. Vocês fiquem aqui, mas fiquem atentos. Esse garoto vai me levar até a rua Görlitzer e se não tiver nada lá ele vai morrer lá mesmo. Eu já volto.

- Certo.

O oficial subiu em uma kettenkrad HK 101 e ligou o motor.

-Vamos garoto. Suba logo,. Ao tenho o dia todo.

Karl subiu no veículo e os dois saíram em direção à rua Görlitzer.

-É essa a casa. - Disse Karl.

O oficial desligou o motor.

-Fique aqui. Viu lá dentro verificar. Pra sua sorte é melhor que ela esteja lá.

- Ela está lá. Escondida lá em cima. O nome dela é Judith.

O oficial sacou a pistola e foi caminhando em direção à casa. Karl ficou ali, tremendo de frio.

Krauss entrou na casa pelo mesmo caminho que Karl entrara anteriormente.

A casa era enorme. Os proprietários deviam ser ricos antes da guerra. Se fossem judeus já deviam estar exterminados. O garoto dissera que a menina estava lá em cima de modo que ele foi diretamente ao último andar.

Ele encontrou Judith dormindo. O garoto estava certo. Havia mesmo uma judia suja escondida ali, e essa era bem novinha, do tipo que Krauss gostava.

Ele ficou durante dois anos trabalhando em um campo de concentração em Auschwitz na Polônia, e o trabalho que ele mais gostava de fazer era estuprar as porcas judias, principalmente as adolescentes, era simplesmente fantástico.

Krauss deu um chute na garota que acordou dando um salto de susto.

-ACORDE SUA CADELA JUDIA!! VAMOS!! ACORDE!!!

Judith levantou- se e tentou correr. Krauss a segurou pelo cabelo, a puxou e volta e lhe deu um murro na cara. Judith gritou e foi atirada contra a parede caindo no chão.

Krauss se aproximou dela e começou a chutá- la.

-QUER DIZER QUE VOCÊ SE ACHA ESPERTA, SE ESCONDENDO AQUI, NÃO É SUA PUTA! POIS EU SOU MAIS ESPERTO QUE VOCÊ! ESTÁ OUVINDO PUTA?!

Judith gritava, chorava e te tava se proteger dos potentes golpes.

Krauss guardou a pistola, a segurou pelo cabelo e a arrastou até o meio do quarto onde ficava uma cama. Ele a atirou só de a cama e rasgou suas roupas a deixando nua.

-Você não é de se jogar fora, não é mesmo. Pena que não passa de uma judia vadia. Mas eu vou fazer beijar você, sua porca. Vou ensinar direitinho.

Krauss começou a abaixar as calças.

Judith esperneou e acertou o pé no rosto de Krauss que gritou e afastou-se.

Ele cuspiu sangue, seu rosto se fechou numa máscara de ódio.

-SUA PUTA! VOU FODER SUA BUCETA, E DEPOIS VOU ENFIAR NO SEU CU E DEPOIS VOU MATAR VOCÊ, SUA JUDIA DE MERDA!

Krauss foi pra cima de Judith que tentava lutar com todas as suas forças. O homem era forte e lhe deu um soco na cara. Judith viu estrelas, sua visão ficou turva. Ela engasgou com o sangue e tossiu.

Krauss a penetrou e começou a estuprá- la.

" O que ela fez pra você? "

Karl olhou para os lados para ver se via alguém. Imputar estava vazio.

Ele ouviu os gritos de desespero que vinham lá de dentro da casa. O oficial estava matando Judith e a culpa era dele, porque ele a denunciou, revelara seu esconderijo. E porque?

" O que você ganha com isso? "

" Os judeus são os culpados pela guerra".

" São. Foram eles que mataram seus pais? Mataram sua mãe? "

" Mas meu pai me disse que eles merecem morrer."

" Onde está seu pai agora? "

" E aquela menina? É apenas uma menina. O que ela fez a você?"

Karl apeou do kettenkrad HK 101 e começou a correr em direção à casa.

Sacou a Bereta e correu como uma bala escada acima.

-JUDITH!! JUDITH!!

Ele ouviu mais um grito e então ela parou de gritar.

" Por favor Deus! Que não seja tarde demais!"

Karl correu pelo corredor e entrou no quarto.

O oficial estava com as calças abaixadas, em cima dela. Karl encostou a bereta na cabeça dele e puxou o gatilho. O som encheu a casa e fez seus tímpanos tremerem e associarem. O soldado caiu no chão imóvel.

-Meu Deus! - Karl começou a chorar. - O que ele fez com você?! Judith! Por favor, não morra! Não morra! Eu sinto muito! Eu não queria… me desculpe!!! Não morra! Não morra! Fique viva!

Karl rasgou um pedaço do seu casaco e começou a limpar o sangue do rosto de Judith.

Ela abriu os olhos. Karl sorriu.

-Isso! Não morra! Fique viva! Eu vou protegê-la! Nós vamos ficar juntos, está bem? Vamos passar por isso juntos! E vamos ficar vivos! Eu prometo!

Karl deu-lhe um beijo no canto da boca. Judith suspirou e fechou os olhos. Ela estava exausta. No momento tudo que ela precisava era estar ali.

Karl tirou as roupas do oficial, pr visou cortar as calças para elas servirem em Judith. Eles pegaram as únicas coisas que ainda lhes restava, que era quase nada e saíram da casa.

A rua Görlitzer estava deserta mas era melhor se apressar em, logo os soldados viriam atrás do oficial.

O rosto de Judith estava inchado mas ela ficaria bem.

-Consegue dirigir essa coisa?- perguntou Judith.

- Não.

- Eu também não.

- Temos que ir agora.

- E para onde vamos?

- Para o mais longe possível.

Karl segurou a mão de Judith.

Os dois começaram a andar.

Luis Fernando Alvez
Enviado por Luis Fernando Alvez em 14/05/2019
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