Ficha 13! Ficha 13! Ficha 13...
Mesmo as pessoas mais calmas e aparentemente tranquilas estão sujeitas a crises e desestruturação mental. Um pensador, não me lembro do nome, disse que não é o homem que governa as circunstâncias, mas as circunstâncias que governam os homens. Correto. Assim, qualquer ser humano pode ser vítima de algo imprevisível. Foi o que sucedeu com um caixa de um instituto de previdência nos anos dourados. Fim dos anos 50 e começo dos 60.
Naquele tempo não existia ainda o INSS, cada categoria de trabalhadores tinha oseu instituto: os bancários o IAPB, os comerciários o IAPC, os operários o IAPI...Ernesto era caixa d IAPI. Um sujeito correto, cordial, bom esposo bom pai, funcionário exemplar. Era do trabalho para casa. e vice-versa. Acontece que com o decorrer do tempo foi se entediando co a vidinha monótona, aí começou a participar de algumas farrinhas com colegas. Mas tudo nos conformes, até que numa dessas farras conheceu uma moça, prima de um colega, chamada Dalva. Ernesto assim que botou os olhos em Dalva tremeu nas bases. Ela simpatizou com ele. Ela era comerciária e de vez em quando acompanhava o primo nas farras, e cantava, e bebia, e era não só bonita mas muito simpática. Ficram amigos e... evoluíram, foram ao cinema juntinhos, de mao dadas, veram os primeiros beijos, amassos e a primeira, segunda, terceira transas no apartamento dela, quitinete no centro da cidade. Só que Dalva era noiva, de aliança no dedo e casamento marcado. Sabiam que a ligação era efêmera, tinha dias contados. Mas Ernesto estava apaixonado. E quando o caso chegou ao fim, ela casou e foi embora ara o interior com o marido, ele ficou nervoso, começou a se exceder na bebida, ficou chato. O nervosismo foi aumentando e ele nunca mais foi o mesmo.
Numa sexta-feira, de pagamento dos aposentados, ele estava no pique do nervosismo, o pagamento era feito o caixa chamando os beneficiários por fichas distribuídas. Ele começou a chamar gritando o número das fichas e automaticamente mesmo nervoso fazendo os pagamentos, gritou as fichas 1, 2, 3...todos compareciam e recebam seu dinheiro, quando ele gritou "Ficha 13!" não apareceu o beneficiário, ele repetiu Ficha 13! e nada, aí ficou ainda mais nervoso e começou a gritar Ficha 13 sem parar entrou em surto, desesperado, arrancando os cabelos, Ficha 13, Ficha 13, Ficha 13... Não parava então chamaram uma ambulância e levaram Ernesto para uma clínica e o doparam. Nunca mais foi o mesmo, o IAPI deu toda assistência, ele frequentou especialistas, mas só fazia repetir o Ficha 13.
Depois de algum tempo se acalmou mas não conseguia estabelecer uma conversação normal foi aposentado e terminou seus dias num quartinho de casa definhando e dizendo baixinho Ficha 13. Foi vítima das circunstâncias, apaixonou-se e não pode viver o a sua paixão, ela foi interrompida. Coisas da vida. Triste, mas acontece. Infelizmente e sempre com boas pessoas. Inté.