Vergonha e Desespero
Aconteceu na década de 50 no sertão pernambucano. As pessoas importantes na cidade eram o prefeito, o juiz, o promotor, o padre, o médico diretor do hospital, o delegado, alguns comerciantes e fazendeiros, além do coletor federal e do coletor estadual Formavam a elite do lugar.
O coletor federal, personagem central deste narrativa, fora durante muito tempo fiscal de rendas em diversas cidades doestado e, depois, nomeado coletor federal de sua terra natal. Era muito querido,fraterno, solidário e só fazia amigos. Era quem comandava as reuniões sociais. Em outras palavras: era o pilar maior da sociedade da terrinha.
Mas ele tinha um problema sério: mesmo ganhando um alto salário, o maior da cidade, a família gastava demais. A mulher, filhos e filhas esnobavam e, inclusive, davam muitas festas, viajavam muito para a capital e compravam muitas coisas de que nem necessitavam. Ostentavam um luxo absurdo. Resultado, o coletor vivia se endividando para cobrir os gastos da família. Vivia fazendo "papagaios" num banco, rolando as dívidas. Num certo mês, a família extrapolou na gastança, fizeram muitas compras e se divertiram a torto e a direito na capital e, ai, veio a conta que teria que saldada urgente. Era uma quinta-feira e vencia na sexta. O coletor era muito amigo de um gerente de um banco particular, era ele quem rolava as dívidas dele. Foi a esse gerente e contou o problema. O gerente ficou alarmado, a quantia era muito alta e teria que ter autorização da matriz. Assim, o dinheiro só sairia na segunda ou terça. O coletor se aperreou. Então, mesmo ferindo a ética profissional, contra sua consciência, resolveu, como último recurso, lançar mão da quantia retirando-a do cofre da repartição que dirigia. Depois, no máximo na terça-feira reporia esse dinheiro. Acalmou-se. Pensou que resolvera o problema.
Acontece que no outro dia, na sexta feira, logo cedo bateu na coletoria uma inspeção e ela constatou o desfalque e iniciou um processo, afastando de imediato o coletor das suas funções. Ele ficou envergonhado e desesperado, sabia que seria demitido e com certeza preso. Mais: toda a cidade saberia do fato. Foi para casa, entrou no quarto, fechou a porta a chave, retirou um revólver Smith Wesson 32 da gaveta de uma cômoda e atirou na cabeça.
Foi um corre-corre danado. Arrombaram a porta e o encontraram caído em meio a uma poça de sangue. Chamaram o médico diretor do hospital, ele constatou que o coletor ainda vivia, enfaixou a cabeça dele e levaram-no com muito cuidado num carro para o Recife. Graças a um milagre, um famoso medico da capital afirmou que era um caso em um milhão, a bala entrara por um lado e saíra pelo outro lado sem aingir nada vital. Ele ficaria bom.
Ficou, recuperou a saúde, mas foi demitido e passou algum tempo na prisão. Nunca mais botou os pés na cidade que tanto amava. Recomeçou a vida negociando, e a família teve que se adaptar à vida de pobre, afinal fora por causa dela que o coletor fora demitido e atentara contra a própria vida. Uma lição dolorida. Um acontecimento muito triste mas verdadeiro. Juro. Inté.