BARDO BRITÂNICO OU UNIVERSAL? - PARTE II

Não fantasma contemporâneo, mas ainda existe em Elsinore o Castelo de Kronborg - bela arquitetura e localização espetaculares, cúpulas esverdeadas, aspecto ameaçador em especial no inverno (termõmetro pode chegar a zero grau); construção à beira-mar, cenário pré-"cinematográfico"... fortaleza para proteger o país dos ataques vizinhos - entretanto, canhões com mais fama que eficiência. Século XVI, sala de banquetes e muitos aposentos reais. Na época, o maior salão do norte da Europa, faustos banquetes, 62 metros de comprimento, e o temor ao canhões eram para os ingleses o ti-ti-ti da época. Cômodos do palácio sempre vazios, pois os monarcas não moravam lá - mobília recolocada na hora para visitantes reais ou outros. ----- Cidade de Elsinore, versão latinizada de Helsingor, cidadezinha medieval do extremo da Dinamarca - território avança pelo mar, a uma barca de distância da Suécia. Dos séculos XV ao XIX, cobrava pedágio dos navios que entravam ou saíam do Mar Báltico e em troca protegiam contra piratas - cidade afortunada, segunda mais populosa do país, cerca de 10 mil habitantes na época. ----- Assim como SHAKESPEARE (1564/1616) não foi à Itália, também não à Dinamarca, muito menos... ao Brasil, pouco além de recém-nascido e batizado. ----- Inspiração na lenda dinamarquesa do príncipe AMLETH. Muitos detalhes: plantas, clima, nomes próprios, muito etilismo (incontrolável, provoca desvarios), tudo confirma e ao mesmo recusa a presença do literato, mas o essencial é a força do texto, filho angustiado querendo vingar a morte do pai. Se visitou Helsingor, teria sido entre os "sete anos perdidos", entre 1585 e 1592, vida desconhecida de William nesse período. Três atores amigos poderiam ter lhe descrito o castelo - William Pope, Thomas Pope e George Bryan - que justamente em 1585 se apresentaram diante de Frederico II, rei da Prússia e protetor das artes. Ou como informante o compatriota John Dowland, alaudista e compositor que trabalhou para os reis dinamarqueses entre 1598 e 1603, ano da publicação de "Hamlet". ----- Os dinamarqueses afirmam que a cidade tornou "Hamlet" conhecido, não o inverso. ----- HAMLET (que nossos preciosos-inesquecíveis TRAPALHÕES chamavam de "Omelete"), não personagem histórico, real, apenas o protagonista da peça teatral (consta que inspirou várias estórias, inclusive "O rei leão"). ----- O ingresso ao castelo traz no verso a foto de um ator tendo na mão um crânio humano. A lojinha oferece suvenires da Dinamarca, edições do livro e objetos afins; em duas salas, exposição de fotos de peças realizadas no festival anual de verão. Fala-se de Helsingor-Elsinore, quando de fala de Hamlet (idem Verona, em relação a Julieta).

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FONTE:

"Elsinore", crônica de Arthur Dapieve - Rio, jornal O GLOBO, 10/3/17.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 10/05/2019
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