A Liberdade

Mandei uma mensagem simples terminando aquele inferno de relacionamento. O telefone tocou umas dez vezes até que eu finalmente o desligasse. Dez vezes! Tem gente que não entende um não de primeira.

Abri uma garrafa da porcaria do vinho caríssimo de Paris, o vinho que a minha irmã bem sucedida, casada e linda havia dito para guardar para uma "ocasião especial". Ela parou de falar comigo no enterro do papai, foi lá que eu contei ao velho e rico do marido dela, que ele era corno.

Decidi jantar um pote de sorvete, coloquei uma camiseta folgada, furada e super confortável. Joguei fora aquela merda de calcinha fio dental. Deus! Como alguém pode usar aquela droga de calcinha por mais de 3 horas sem desejar tirar ela do meio do rabo?

Liguei o som. David Bowie entoava algo como se pudéssemos ser "heróis apenas por um dia" . Meu hino! A síndica interfonou e mandou eu baixar o som. Disse que baixaria, mas aumentei e lembrei de trancar a porta, caso a policia resolvesse me visitar. Sentei naquela poltrona de couro, o segundo prêmio para a segunda colocada no ranking de vendas da loja. "Segunda colocada"... lembrei de ligar para o meu chefe e dizer que cuspia sempre no café dele pela manhã e que somente morta eu abriria as pernas para ele . Foda-se a promoção, o primeiro lugar, carreira e dinheiro.

Qualquer ser humano tem o direito de se sentir livre pelo menos uma vez na vida. Longe das conveniências sociais e falsidades familiares. Meu deus, acho que amo o David Bowie e odeio vinho caro de Paris.

Carol Galvão
Enviado por Carol Galvão em 05/05/2019
Código do texto: T6639608
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