A VISITA DA MULHER EM ROUPAS ÍNTIMAS
Carmem é uma mulher de 45 anos, loura, olhos castanhos, lábios finos, 1,70 m, extrovertida, sexy e gentil. E trabalha muito desde os 13 anos.
Ela acordou bem cedo ontem - mais do que o habitual -, tomou um café bem forte, comeu um pedaço de pão doce liso, decidiu vestir seu vestido florido (curto e novo), calçar sua sandália nude salto 15, colocar seus brincos na cor que lembra um nude, e foi direto para sua loja de roupas íntimas.
A loja de roupas íntimas de Carmem é repleta de prateleiras coloridas, onde as prateleiras do fundo combinam com a cor da porta de entrada: rosa choque. As peças íntimas infanto-juvenil ficam dispostas no lado esquerdo, separadas em masculino e feminino, e de baixo para cima por tamanho. As peças adulto ficam no lado direito, separadas por cores, por masculino e feminino, e de baixo pra cima por ordem de tamanho. Já as peças com modelos para homens e mulheres de idade avançada (pessoas idosas), curiosamente se encontram organizadas nas prateleiras do fundo da loja.
Apesar de Carmem ter chegado na loja muito cedo e sem sinais de cansaço, não conseguiu ficar os dois expedientes. Assim, resolveu colocar a placa colorida com o nome "fechado" em azul turquesa pelo lado de dentro da porta de vidro, girar cuidadosamente a maçaneta antiga, trancar com duas voltas a porta de entrada de cor rosa choque e ir embora para casa.
Ao passar pela rua mais estreita e mais movimentada da cidadezinha onde trabalha, repleta de lixeiras coloridas nas calçadas (entre uma casa e outra), casinhas pequenas de alvenaria, simples e belas, asfalto recém-colocado, se depara com um grupo de percussionistas composto por adolescentes entre 14 e 17 anos, que toca uma música em especial que ela adora. Ela os cumprimenta com um sorriso largo no rosto, canta um trechinho da música adorada por ela e sai daquela rua estreita.
Após, Carmem pega a rua mais silenciosa e mais perigosa da cidade, que é repleta de grandes árvores nas calçadas, quase nenhuma casa (pouquíssimas casas, velhas e de cor cinza) e com calçamento feito de grandes paralelepípedos. Há sempre o vento soprando forte nesta rua. O vento é tão forte que o barulho lembra um assobio. E no momento que Carmem resolve dar uma olhada para trás, percebe que está sendo seguida por uma pessoa muito estranha. Tão estranha é a pessoa que não se sabe se é homem ou mulher! O que Carmem notou é que a pessoa que a segue tem passos firmes e largos. Embora tenha ficado assustada, Carmem se concentra em olhar para frente, seguir caminhando e sair daquele local.
Assim que sai da rua silenciosa e mais perigosa, entra direto na avenida mais longa e mais larga da cidade, cheia de casarões novos e antigos, feios e suntuosos, uns coloridos e outros pintados de branco gelo, algumas árvores de pequeno porte nas calçadas, asfalto de ótima qualidade porém antigo, meio fio recém-pintado de terracota, e percebe um grupo de pessoas de idades variadas olhando para o céu e para o telhado azul claro da casa enorme de Zé Pastor, boquiabertas, sem piscas os olhos ou se mover. Carmem, então, pergunta a si mesma o que está acontecendo, afinal. E o que estariam vendo. De repente, ela observa bem o que todos ali estão olhando e pensa: "eu não acredito! É um extraterrestre! É um extraterrestre! E no céu tem uma nave espacial! É, com certeza, um extraterrestre que já chegou no telhado de Zé Pastor!" Pasma, Carmem tentou falar alguma coisa mas não conseguiu. Ficou ali parada, imóvel, com os olhos fixados no "homenzinho verde de olhos negros e amendoados". E o extraterrestre ficara observando aquelas pessoas e as casas a seu redor, de forma sutil e assustadora, e realizou um movimento lento para baixo, o que sugeria que iria entrar na casa de Zé.
Alguns minutos depois de toda aquela vidração e surpresa, Carmem sai daquele estado latente de perplexidade e fica com medo de ser abduzida, decidindo, assim, sair a avenida mais longa e mais larga da cidadezinha. Ela inicialmente estava andando, caminhando. Depois apressou o passo e começou a correr. De repente, quando ela menos espera, está na entrada do terminal rodoviário, que é bem peculiar pelo fato que remete ao Arco do Triunfo, exceto pela cor avermelhada. Neste terminal lilás, de entrada na cor vermelha, ela resolve pegar um ônibus para outra cidadezinha, perto dali. Só que o ônibus vai muito devagar porque é velho. E se não bastasse, passa com o lado direito em cheio dentro de um enorme buraco, o que causa a quebra do eixo dianteiro do ônibus. Desse modo, o motorista entra em contato com a empresa e comunica aos passageiros que seguirão viagem em outro ônibus.
Meia hora se passou. Finalmente o outro ônibus chegou naquela estrada deserta, ensolarada, e Carmem seguiu em sua viagem. Por azar, esse ônibus era muito velho também, o que significa mais tempo de estrada. Por sorte, não quebrara no caminho. Apesar da lentidão e do cheiro desagradável do veículo, Carmem conseguiu cochilar durante a viagem. E depois de uma hora e meia de viagem, chega na outra cidadezinha.
Ao chegar na cidadezinha, Carmem caminha ansiosamente, pega a ladeira próxima ao bosque, muito florida e colorida, desce na avenida principal, que é cheia de casas de todos os tamanhos e de lixeiras amarelas, vira à direita numa rua estreita e repleta de criancinhas barulhentas, entra num beco sujo à esquerda, e chega em casa.
Logo ao entrar em sua casa, vai para seu quarto, tira apressadamente o vestido florido, a sandália nude, seus brincos de cor clara, e veste - sem muita pressa - sua roupa íntima na cor vermelha, a mais bonita e sensual, calça uma sandália preta salto 15 e segue para a sala, onde desfila para seu filho deficiente intelectual, que adora ver desfile da mãe em roupas íntimas, ainda mais que ela sempre gosta de contar enquanto desfila sobre a rua mais estreita por onde passa todos os dias, a rua mais silenciosa e perigosa, a avenida mais longa e larga. Sobre visitas de extraterrestres no telhado de Zé Pastor, e a viagem num ônibus bem velho para chegar em casa, entrar logo em casa, pois havia fechado a loja de roupas íntimas mais cedo para ver a felicidade do filho ao vê-la antes do final do dia em casa.
Éryka Patrícia Ramos Pereira (Caruaru/PE)