Suzana
- Eu faço sexo por dinheiro - ela me disse, depois que eu lhe beijei num arroubo de espontaneidade.
- Como?
- Eu faço sexo por dinheiro, oras.
- Essa não é uma coisa muito comum de se ouvir depois de beijar uma mulher pela primeira vez. Eu não teria como imaginar isso se você não me dissesse antes.
- Eu sei. É que eu estou realmente precisando.
- Tudo bem.
- Falei por que acho que você deveria ficar sabendo logo.
- Eu nunca paguei por sexo, então não sei muito bem o que pensar.
- Mas eu não estou pedindo o seu dinheiro. Só achei você um cara legal, então é melhor que ficasse sabendo por mim, e não pelos outros.
- Fico feliz por sua sinceridade.
Suzana deu um sorriso sem graça e ficou olhando para o chão, visivelmente embaraçada.
Levantei seu rosto e lhe deu um beijo de leve nos lábios. Ela retribuiu o beijo com um sorriso genuíno, se encostou na parede e acendeu um cigarro.
- Eu podia te dizer que me prostituo por uma boa causa, como comprar remédios para algum familiar, ou pra sustentar meu filho na escola. Mas não é o meu caso.
- E qual o seu caso?
- Cartão de crédito. Consumismo... sei lá.
- Acontece com muita gente.
- Eu sou bem objetiva quanto a isso. O corpo é meu. Eu faço com ele o que eu quiser. Não faço por que gosto, mas sou pragmática o suficiente pra saber que eu preciso disso agora.
- Você não precisa explicar isso pra mim.
- Eu sei. Mas você me deixa a vontade para falar sobre isso.
- Bem. Você quer ir para algum outro lugar? Conversar mais a vontade?
- Eu moro no fim da rua. Se você quiser podemos ir lá pra casa.
- Vamos então.
Paguei a conta do bar e segui Suzana até a sua casa.
Não era grande coisa. Kit net parcialmente mobiliado. Quase tão bagunçado quanto a minha casa.
- Vou tomar um banho. Senta ai que eu já volto. Se quiser água ou uma cerveja, pode pegar na geladeira - Ela disse.
- Ok.- Respondi Laconicamente
larguei minha mochila no sofá da sala e me sentei.
Ela foi até o quarto e depois eu ouvi o barulho do chuveiro.
Não demorou muito para que ela voltasse.
Saiu do banheiro enrolada numa toalha e falou.
- Vem aqui pro quarto. Aí tá muito quente.
Deixei a mochila na sala segui até onde ela estava.
Entrei no quarto e sentei à beira da cama dela.
Suzana largou a toalha em cima de uma cadeira e ficou completamente nua, enquanto procurava alguma roupa dentro das gavetas do seu armário.
Vestiu apenas uma calcinha, se sentou na cama e acendeu outro cigarro.
- Você fuma? - Perguntou-me.
- Não.
- Engraçado. Todo mundo lá na mesa estava fumando, menos você.
- Nunca vi muita graça no cigarro. Acho que a idéia de estar viciado em algo assim não me agrada muito.
- Bem. Pelo menos você não se incomoda com a fumaça.
- É verdade. E o engraçado é que eu termino me envolvendo sempre com fumantes.
- Estou tentando parar. Mas a vida não deixa. As vezes me sinto numa prisão... e o cigarro é a única coisa que me liberta, mesmo que só por alguns instantes.
- Você tem alma de poetisa.
- Por que você diz isso?
- Muito do que você fala poderia ser dito em verso. Foi o que me fez te reparar.
Suzana apagou o cigarro num cinzeiro e veio até onde eu estava e se sentou no meu colo.
- Acho que não se precisa de palavras pra fazer poesia. - Ela me disse, com os olhos presos nos meus.
- E como seria isso? - Perguntei.
Ela se levantou do meu colo e deixou que sua calcinha caisse no chão.
- Acho que você já é bem grandinho pra saber como se faz.
Mas se não souber, eu te ensino.
- Eu aprendo meio devagar. Você vai ter que dar várias aulas.
- Tudo bem. Aproveite que hoje eu estou de folga.
Me levantei da cama e tirei minha roupa. Suzana não tirou os olhos de mim enquanto eu me despia e também não disse nada.
Ela se abaixou e começou a me beijar na altura da cintura.
Ainda assim, não parou me olhar nos olhos.
Ela estava certa.
Fizemos poesia a noite toda,
sem precisar de uma palavra sequer.