ANNE FRANK - PARTE II
1 - Às vésperas de completar 90 anos, no mês de maio, o senhor OTTO FRANK, pai de Margot e Anne, visitou mais uma vez o antigo endereço de Amsterdã, onde a família Frank e quatro amigos - família Van Daan e o dentista Dussel - permaneceram na clandestinidade durante vinte e cinco meses.
ANNE FRANK confessava seu desejo de se eternizar no rosto da foto pendurada na parede de seu quarto, inconfundível como a conhecemos, pois na verdade assim ficou na capa de seu livro-diário - outras "carinhas" no cinema e no teatro. Há uma impressionante frase de Anne: "Gostaria de viver mesmo depois da minha morte." Geminiana do dia 2 de junho de 1929. Impossível imaginá-la fora do contexto da adolescente trancafiada num esconderijo á beira do canal, em Amsterdã, depois levada para um campo de concentração. O pai, único sobrevivente dos Frank, passou a viver na cidade suíça de Basileia, voltando algumas vezes para visitar o antigo local - que virou museu, as peças da casa intactas -, onde a pequena família Frank e quatro amigos conseguiram sobreviver ocultos durante vinte e cinco meses, até denunciados anonimamente e entregues aos nazistas. Perfeitamente lúcido, conta que, voltando de Auschwitz, encontrou em Amsterdã um casal de amigos, MIEP e o marido ("força espiritual mais poderosa que a morte: a amizade", palavras dele), que os ajudaram a sobreviver no esconderijo - a mulher lhe entregou o diário da filha caçula. De início, quis guardar o manuscrito para si: amigos íntimos leram e um editor holandês publicou em diversos idiomas ocidentais, orientais e africanos, milhões e milhões de livros vendidos. Lembrando: a família Frank fugira da Alemanha para a Holanda quando o golpe levou Hitler ao poder, em 1933. Na Holanda, fundou uma firma junto com oito sócios e logo criaram profundos laços de amizade. Em poucos anos, começaram as perseguições dentro da Holanda e se esconderam ali mesmo, até serem denunciados anonimamente e a Gestapo os descobrir. Levados a princípio para Auschwitz, depois separados. Campo dos homens, trabalhos forçados, por doença grave recolhido ao hospital improvisado, liberto depois por gentis russos - dali foi para Katowitz, Odessa, Marselha e finalmente Amsterdã. Perguntou sempre a antigos prisioneiros sobre sua família Foi reconhecido por uma colega de Anne, que o apresentou à mãe que por sua vez também pediu notícias do marido, morto em Auschwitz. Mais adiante, Otto casou com a viúva Fritzi. Soube da morte das filhas, encontrou antigos auxiliares e protetores; tentou organizar uma comunidade de crianças órfãs, reunir parentes dos mortos, visitar sanatórios e outras beneficências, mas logo conscientizou não poder mais viver ali...
2 - Apesar do apelo comercial ou justamente por isso, uma nova versão do mito ANNE-escritora coloca em questão duvidosa a autenticidade do diário tradicional que triunfou durante décadas desde 1947. Na primavera de 1944, o exilado ministro holandês da educação pronunciou-se para que preservassem documentos da ocupação nazista e ANNE antes já queria ser escritora. Nos dois meses seguintes, a jovem reescreveu todas as cartas dedicadas à imaginária amiga Kitty, reunidas entre os anos de 42 a 44, suprimiu passagens e acrescentou memórias. Esses manuscritos intactos ficaram temporariamente em poder de Miep Gies, secretária do senhor Otto, depois coleção caracterizada sob a forma de diário, ao mesmo tempo obra frágil e descaracterizada por conta da limitação do número de páginas, cortes não criteriosos e censura do senhor Otto nas passagens que evocam relacionamento adverso com a mãe, a sexualidade e a feminilidade precoces de Anne. Foi aí que grupos de inspiração neonazista sustentaram que ANNE FRANK jamais existira. Em 1989, peritos e historiadores confirmaram a autenticidade da autora nas três "versões" da obra; a primitiva, a reescrita pela própria Anne e a nova versão publicada, integral.
3 - Em meados de agosto de 1980, morreu OTTO FRANK, na Suíça.
Quem foram os amigos de sua filha ANNE? Citarei alguns:
1-Na Alemanha, a senhora Kati, empregada da família até 1933; desde antes da guerra, colecionou cartas e fotos de Anne, pois se correspondiam, e críticas de jornal a peças teatrais. Outra amiga foi Gertrudes K, idade aproximada com Anne e Margot. 2-Na Holanda, a senhora Frank se correspondia com Kati e Gertrudes até a eclosão da guerra, comunicações suspensas. 3-Amiga da Alemanha e que também foi com os pais para a Holanda, também judeus, Lies P.; estudavam na mesma escola, depois transferidas para o Liceu Israelita com a ocupação nazista, mais tarde se encontrando no campo de concentração de Bergen-Belsen, Lies detida na parte destinada a estrangeiros neutros, de vem em quando passando para as amigas um pacote da Cruz Vermelha Internacional. 4-Toosie K. não era judia. 5-Jopie van der Waal era meio-judia, escapou da deportação e durante a guerra ficou com o gato de estimação de Anne. 6-Quanto aos funcionários da firma que os esconderam, eram dois holandeses e dois austríacos (MIEP, holandesa de coração). 6-A família Van Daan - casal e filho jovem - eram naturais da Alemanha, assim como o dentista Dusse, casado com uma não-judia, ambos berlinenses.
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FONTES:
"O pai de Anne Frank rompe o silêncio" -- "As cartas proibidas de Anne Frank" - Rio, revista MANCHETE, maio/79 e 21/3/92 // "Os amigos de Anne Frank: revelações sobre o diário" -- Jornal ISRAELITA, 26/3/81.
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