CERÂMICA NORDESTINA

FRANCISCO DE ASSIS (1181ou1182 - 1226) - Frade católico italiano. Nascido GIOVANI DI PIETRO DE BERNARDONE, na cidade de Assis. Juventude irrequieta e mundana, voltou-se para vida religiosa de completa pobreza, fundando a Ordem dos Frades Menores. Autor do longo poema "Cântico das Criaturas", em dialeto umbro - ritmo de ladainha com refrões - oração e louvação, humanismo cristão: humildade, caridade, desprendimento de certo luxo medieval dos grandes senhores, fossem comerciantes ou nobres.

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Nas feiras nordestinas, destacando-se a de CARUARU, em paralelo, é o que existe nas barracas: frutas (várias parecem exóticas porque totalmente desconhecidas até de nome), muitos artesanatos em pele de bode (calçados, bolsas. coletes), tecidos (em especial chitas coloridas), alpercatas (sandálias de couro bruto) tipo "Maria Bonita", rapadura, pé-de-moleque (bolo de aipim-mandioca-macaxeira), pinga........ e cerâmica (barro 'melhorado'). Peças utilitárias de cerâmica (panelas, tachos, potes, jarras, moringas) e decorativas (bonecos, animais, grupos humanos etc.) - piada: admirar somente, não comprar, para não 'quebrar' a linda exposição! Desde a pré-história isso já era feito, entre nossos indígenas idem, mas o planeta deu muitas voltas e essa arte, no Nordeste, começou com VITALINO (1909 / 1963), a "loiça de brincadeira", como ele muito bem recordava para designar objetinhos - miniaturas do que a mãe fazia - bichos do cotidiano (nunca viu zebra ao vivo, mas conhecia de desenho e confeccionava) e seus primeiros 'bonecos' da infância "ceramista" (contei aqui a estória verdadeira), logo depois MESTRE VITALINO... Mereceu o título! Passou a fabricar grupos - soldados, procissão, pessoas com instrumentos musicais, trabalhadores na casa de farinha, cenas familiares de casamento (ou casalzinho montado num burrico, ela ainda no vestido branco, a caminho do novo lar), danças... Criador de tipos humanos - poucas figuras isoladas. Na lenda bíblica, "o homem veio do barro". Cerâmica lúdica e decorativa. Algumas, entre decorativas e religiosas. ----- São Francisco! Evidentemente, porque largou a fortuna familiar, Francisco ficou nu perante o pai nobre (cena apareceu em antiga, saudosa e famosíssima novela, "O astro", 1977/78 /nossa, século... passado!!!/, não lembro se personagem citou o santo... porém ator TR igualmente 'peladinho', de costas, para delírio das fãs X luta com a censuroníssima da época...) e foi lutar numa vida de pobre, mas FRANCISCO DE ASSIS é popularíssimo... embora ninguém o tome como exemplo (sim, a apaixonada CLARA desistiu e foi ser freira...) real. Nestas feiras, versatilíssimas estatuetas, pura cor de barro ou não, posteriormente pintadas, hábito religioso marrom da ordem e cordão branco na cintura... ele com pássaros nos ombros, em outras com rosário ao pescoço ou "aquele" livro manuscrito na mão (GUTEMBERG surgiria somente séculos depois). Carimbo na parte inferior da estatueta de cerâmica: VITALINO FILHO. (Comum existirem imagens de santo em barro desde o século XVII, logo substituídas por madeira, de maior durabilidade e mais fácil de estilizar.) A popularidade de "Francisco" /intimidade entre artista pernambucano e o santo italiano dos pobres/ é fato constatado, seguida um tanto de longe pela fama de Santo Antônio, ainda que - pelo hagiológio (descrição, estudo e tratado sobre os santos) popular - sejam popularmente mais festejados São João e São Pedro /doces regionais, quentão, fogueiras, barraquinhas, quadrilha dançante, casamento com moça 'barriguda' e noivo algemado.../, estes santos não modelados pelos ceramistas santeiros. (Em outra novela, 1985, personagem Roque era um santeiro famoso que na verdade fugira... e virou mito.) No Nordeste, da missa ao misticismo, da crença messiânica ao catolicismo de verdade, Francisco e Antônio, estatuetas, aparecem muitíssimo mais que "Padim Ciço" (o povão pouco instruído fala assim mesmo) e o continuador da obra deste, Frei Damião. A onomástica das cidades nordestinas confirma a popularidade - muitas cidades com o nome de Francisco... o santo protetor dos bichos; ar um tanto severo, a barba hirsuta, mas dá medo ou rejeição o jeito de protetor. Santo Antônio é achador de objetos perdidos e em especial casamenteiro, cara de jovem imberbe, repreendido ficando de cabeça para baixo se não cumprir a (árdua) tarefa de unir os casais de ainda namorados. Felizes sozinhos /geralmente eles/ que se escondam... Em CARUARU, no Alto do Moura (em 1971, inaugurada a Casa Museu Mestre Vitalino), a "Meca" dos ceramistas, continuadores de Vitalino por profissão, herança e devoção. Artesanato diversificado, tipos antropológicos regionais: banda de pifano, maracatu, bêbado com garrafa de pinga, ladrão de galinha... na criação, mescla de divino e profano. Todo artista tem fases individuais evolutivas, não uniformidade plástica o tempo todo - cansa de fazer, por exemplo, São Francisco de hábito fechado na frente, seriedade sem nenhum bicho, passa a fazer com muitos pássaros na cabeça ou nos ombros, imagens mais procuradas. Um artista o coloca de barba-bigode, outro prefere o rosto liso. Pássaros, característica inevitável.

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NOTAS DO AUTOR:

1-IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - Ouro Preto, MG - evolução do período barroco, elementos decorativos em rococó, uma das mais belas obras do colonialismo mineiro, um dos cartões postais da cidade.

2-Indico para LEITURA - a) meu trabalho "Carrancas do Velho Chico"; b) "O artista", em 'Vitalino - ceramista popula do Nordeste', de RENÉ RIBEIRO - Recife, Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais-MEC, 1965.

FONTE (parte):

"São Francisco na cerâmica popular", de CARLOS ALBERTO AZEVÊDO - Petrópolis, Revista de Cultura Vozes, ano 64, vol.LXIV, n.8, out./70.

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