Pedrada no coração

Voltava cabisbaixo pela rua quando viu uma pedra e teve enorme vontade de chutar. Mirou o seixo e deu uma pedrada para o ar. Logo depois ouviu alguém gritando que diabos era aquilo, foi quando se deu conta que sua atitude levara prejuízo a alguém. Apressou o passo e fez que não era com ele. Um homem, com a mão na cabeça, saía pela rua à caça da origem da ogiva. Olhou pra ele e perguntou se havia visto o moleque e ele, sem saber o que dizer, confirmou que um garoto tinha corrido por ali, apontando a rua adjacente.

Passou aliviado, mas a história não lhe saía da cabeça. Aliás, ela estava pesada demais e a cada instante só fazia piorar.

Pensou em voltar mas já estava longe o suficiente para esquecer o episódio onde fora impulsivo e inconsequente.

Chegou em casa, tomou seu banho e se aproximou do fogão onde a sopa fumegante lhe convidava.A mãe pôs um bilhete na cozinha dizendo que voltava já.

Esqueceu o episódio da pedra rapidamente.

Fartou-se do alimento quente e adormeceu em frente à TV.

Acordou já era manhãzinha. Assustou-se de estar na sala até aquele horário porque a mãe sempre o chamava para o quarto preparado com carinho. Percebeu que estava só e a cama da mãe intacta. Desesperou-se.

Correu até a vizinha e ninguém sabia de dona Cândida. Foi até a venda, nada...

Passaram-se horas e ele ficou sabendo do triste enredo: Ao sair da igreja, uma senhorinha foi atropelada defronte o templo. O sujeito não parou... Não havia documentos que pudessem identificar a senhora que caiu inconsciente pela queda. A cabeça estatelou-se na quina da guia no meio-fio. Chamaram o SAMU mas era tarde demais. Saiu de rabecão para o necrotério da cidade.

Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 17/04/2019
Reeditado em 11/11/2019
Código do texto: T6626119
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