CULTURA AFRICANA - PARTE IV

O escritor moçambicano UNGULANI BA KA KHOSA é menos conhecido no Brasil que Mia Couto. Veio para a FLUP - Festa Literária das Periferias em novembro de 2018 e falou de "Gungunhana", seu mais novo romance - na verdade, fusão sem confusão das estórias relacionadas "Ualapi", de 1987, um dos melhores romances africanos do século XX, com o recente "As mulheres do imperador", continuidade (eu diria Parte II...) da saga do último rei negro de Gaza, destronado pelo poderio português no fim do século XIX, a queda determinando a instauração do colonialismo lusitano - líder destronado, rei humilhado e preso, levado para Portugal e morre na cidade de Angra do Heroísmo, 'sem pompa e circunstância', coitado! Mistura de ficção e realidade, estória real de seu reinado com a história do povo de Gaza - atual Moçambique. No segundo livro, narrativa nas vozes das mulheres do rei Gungunhana, esposas e viúvas na volta para sua terra natal, não mais soberanas-rainhas de 1896, mas uma estranha Moçambique dezessete anos depois, sem realeza e tronos. Tradições da cultura nguni e sua língua, costumes, descrições pormenorizadas de hábitos e vestimentas, cortes de cabelo, dia a dia dos negros no estado colonial e mesuras sobre a famigerada "Rua do Pecado". Ambiente das duas estórias vai dos ambientes e feitos dos principais personagens, opulência imperial, anterior a este rei, até o triste enredo da derrocada, separação e exílio das suas mulheres. Uma reescrita de Moçambique entre História/ficção, tradição/modernidade, narrativas imaginárias e episódios históricos ocorridos, entre versões da oralidade e história oficial - o despotismo do antigo rei e seu poderoso exército "invencível" X o dos portugueses ávidos pela política expansionista.

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LEIAM meus trabalhos "África em Portugal", "África em Portugal", "Africanidade: quilombolas", "Amores africanos", "Cabo verde - África sem Portugal" e "Cabo verde - etnografia".

FONTE:

"A espetacular história do rei de Gaza e suas sete mulheres" - Rio, jornal O GLOBO, 15/12/18.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 07/04/2019
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