COMO COMER E BEBER SEM CONVITE - PARTE II

SOBRENOMES JUDAICOS SEFARDITAS - Verdade histórica ou não, li que judeus antigos, para fugirem da severa Inquisição na Península Ibérica, século XV, teriam se transformado (possível?) em cristãos-novos e mudado seus sobrenomes originais, considerados "infiéis", para nomes de plantas, árvores, bichos ou acidentes geográficos. Inconfundíveis características físicas durante séculos.

Visitem a rua 25 de Março, em São Paulo, ou a Saara, no Rio.

ESTORINHA - Nosso herói ABRAHAM veio ainda rapazinho para o Brasil via Argentina, com os pais e uma irmã, em fuga da II GM - assumidamente judeu, porém orgulhoso passaporte 'apátrida' (jamais trocou). Não mudou sobrenome nem 'virou' Abraão (primeiro patriarca do povo de Israel, origem das religiões), de mais fácil pronúncia... Muita lábia de um modo geral. Quatro idiomas no currículo e depois língua portuguesa, "universidade" de administração por conta própria, só não acertava cozinhar. (Em todo caso, fazia café, colocava sorvete sobre bolo de padaria e fervia salsicha para cachorro quente, fragmento num imenso mundo de masculinos abandonadinhos...) Amava os feriados religiosos de setembro, tempo de nudez pessoal e quaisquer arrependimentos. Únicos dias anuais de Sinagoga!

Morava sozinho. Divorciado, ex-mulher judia, alta funcionária de famosa companhia holandesa de aviação, farta cultura universal /acontece que dois bicudos não se beijam.../, duas filhas mocinhas, também desde cedo viciadas em livros. Amigo transcendental de um dono de televisão e uma revista semanal, constantes brigas telefônicas porque sempre atrasava traduções para a revista - no escritório, secretária audaciosa gritava Shalom junto ao telefone, talvez única mulher no mundo a quem "obedecesse(-m)", bate-boca terminava em segundos.

Do nada, surgiu uma namorada gói (não judia), LÉA, dentista, culta apenas dentro da sua área científica, coincidentemente época em que Israel abria fronteiras para migrantes úteis, residência-trabalho em 'kibutzim'. Sem causa específica, bastava amor à aventura. Doutora, importante... Léa, filha mais velha de Labão, primeira esposa de Jacó - nome de predestinada carioca? Não, não era judia, no beabá de um povo desconhecido, hipótese de reprovação na entrevista. Então, vai "virar" judia aqui e agora. Casal correu cartórios e lá pelas tantas surgiu um antepassado Oliveira. Desenharam uma possível árvore genealógica, nome do tetravô lá em cima, e conseguiram "provar" que a moça descendia de uma imemorial família cristã-nova. Daí, iniciaram o processo de migração... Muito demorado. A secretária adoeceu, licença médica prolongada, passou em vestibular para uma faculdade federal diurna e foi pedir demissão. ABRAHAM e LÉA também "aprovados", malas arrumadas para a nova vida. Agosto, 1969.

SHALOM!

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LEIAM meu trabalho (mesmo protagonista) "Garçom, feijoada pra um!..."

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 06/04/2019
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