CULTURA AFRICANA - III

1---AFRICANIDADE - No Quilombo de Palmares, a festa de 20 de novembro, Dia Nacional (e feriado!) da Consciência Negra, começa cedo, horas antes de o sol nascer, não tempos a perder com três séculos para reverenciar. Em 2015, 320 anos da morte do líder ZUMBI, ícone da resistência negra à política da chibata imposta pela Coroa Portuguesa. Mães, pais e filhos-de-santo, iniciados nas religiões de matriz africana, subiram de madrugada a Serra da Barriga - território sagrado - para os rituais de proteção e homenagem a orixás e ancestrais africanos escravizados no Brasil. Anualmente, durante toda a manhã, o pessoal de União dos Palmares, Zona da Mata alagoana onde Zumbi reinou, vence curvas e poeira da estrada de terra castigada pela seca, de ônibus, van, mototáxi... ou a pé - com eles, moradores de localidades vizinhas, militantes do MST e turistas até do exterior. Nove quilômetros de subida a partir da cidade, a 73 quilômetros de Maceió. A 500 metros de altitude, o memorial de 2007. O mais duradouro e organizado quilombo durou um século, até 1894, chegando a abrigar 30 mil habitantes; hoje, apenas vivem 16 famílias na região. A céu aberto, "museu" de galpões de pau-a-pique com cobertura vegetal dividem espaço com ocas indígenas. Desde 1986, a Serra da Barriga é patrimônio histórico-arqueológico-etnográfico-paisagistico. e em 1997 Zumbi reconhecido como herói pelo governo federal. ----- Ele não foi o único líder de Palmares, comunidade (olha o feminismo ali!) fundada pela princesa e guerreira africana AQUALTUNE, mãe de GANGA-ZUMBA, que reinou no território por décadas, tio e antecessor de Zumbi. ----- Forte a energia que circula em Palmares, tambores soando o dia inteiro para saudar as divindades e os passos de dezenas de capoeiristas que nem o sol inclemente abate. ----- Utopia da liberdade religiosa, sacerdotes e devotos dos cultos de origem africana circulam livres com trajes sagrados e colares de contas - cantam dançam e reverenciam seus deuses, com fé e sem medo. (Forte intolerância diária, sim, ainda, no país da impunidade.) ----- DEUS e auxiliares orixás acima de tudo... e de todos. Valeu, ZUMBI!

2---Pela primeira vez, IBGE testa perguntas especificas para quilombolas e indígenas. ----- Quilombos localizados em Eldorado, Vale da Ribeira, São Paulo. Rio com bananeiras nas margens, sacolas amparado os cachos, estrada parte asfalto ou terra que leva a remanescentes quilombos. Na comunidades mais afastada, São Pedro, fundada em 1856, a que só se chega de balsa, vivem 56 famílias. Para o censo de 2020, prova piloto foi equipes percorrerem comunidades tradicionais em doze estados, levando a novidade: questão específica de pertencimento sobre quilombolas e indígenas; quilombolas identificados sobre significação étnico-racial; lideranças indígenas sobre organização de aldeias. Antepassados vieram da África e se esconderam, onde muitos nasceram e ficaram, sem saber da existência de outros quilombos - hoje, reunidos para reclamar por estrada melhor, transporte, saúde e educação; a maioria dos moradores da região vive da roça, principalmente palmito e banana, e outros cultivos, vendidos por meio de uma cooperativa. Em São Paulo, seis jovens cursam universidade, apenas um até hoje se diplomou - na comunidade, apenas uma escola fundamental de quatro séries. A preservação é História do Brasil!

3---PÉ-SUJO - Apelido desagradável do tempo de botequineiros de tamanco bem gasto, calcanhar de fora... - Ao redor, floresta por todos os lados, sob a sombra da Mata Atlântica. De um lado, mesas, o outro é encosta de floresta, rio passando embaixo. Boa parte dos clientes chega a cavalo, cenário comum o oeste carioca. A birosca fica na comunidade quilombola Cafundá Astrogilda, bairro Vargem Grande, quase na entrada do Parque Estadual da Pedra Branca. Receitas "d'além-mar". Simplicidade, local de alvenaria, mesas em chão de terra, gastronomia de primeira, preciosidades de comer e levar para casa. Comer bem para viver muito. Quilombola nota dez!

4---LIVROS - "O correspondente estrangeiro", do brasileiro Lino Albergaria, mapa da África na capa - problema racial, analisado e discutido entre jovens, com verdade e coragem; texto forte e contundente fala de respeito, fraternidade e amizade entre pessoas diferentes e distantes. / "Nós matamos o cão tinhoso", do moçambicano Luís Bernardo Honwana, um dos maiores escritores do país, obra traduzida em vários países. - histórias que mostram como se pode manipular o homem dentro do colonialismo, realidade africana captada com muita sensibilidade.

5---TEATRO - "Terra sonâmbula", do romance do moçambicano MIA COUTO, périplo da diáspora portuguesa, base de peça teatral - no palco, o livro se transforma em monólogo, mesmo artista sendo , então, o velho Tuahir e o menino Muidinga, que partem numa jornada de fuga da guerra civil de Moçambique, e também o diário do jovem Kindzu, encontrado após sua morte. Dramaturgia aberta baseada no improviso e resposta do público, portanto, um espetáculo nunca 100 % igual, conceito do contador de estórias (no teatro, auxílio por luz e música) que faz todos os papéis e ambientes. Estação Teatral da Beira Interior, que antes montou "Nós matamos o cão tinhoso", acima descrito.

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LINHA DO TEMPO - "NOSSOS ANTEPASSADOS" - 2.000 a. C. - O povo haya, da região da atual Tanzânia, produzia aço a 400 graus Celsius, temperatura superior a dos forno europeus do século XIX. Uma faca datada de 900 a. C. é o objeto mais antigo. / Cerca de 2.000 a. C., o objeto matemático mais antigo é o bastão de lahango, ossoscom registros de dois sistemas de numeração, encontrado no Congo em 1950 e é 18 mil mais antigo do que a matemática grega. / Em 1879, o médico inglês R. W. Felkin aprendeu com os banyoro técnicas de cesariana, cujo procedimento já envolvia assepsia, anestesia e cauterização do corte, que era vertical.

FONTE (principal):

"Um dia em Palmares", artigo de Flávia Oliveira - "Comunidades tradicionais no Censo" - "No coração de um quilombo" - Rio, jornal O GLOBO, 22/11/15, 1 e 21/9/18.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 31/03/2019
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