O homem das flores - Capítulo final.
Nada poderia ser pior. Estava tudo destruído, menos uma solitária rosa vermelha, justamente a flor que anos antes dera bastante trabalha a Tadeu. O fogo havia acabado com tudo. As estufas, o armazém, tudo, absolutamente tudo.
Lazaro filho mais velho de Tadeu se aproximou do pai:
- O que vamos fazer meu pai?
Tadeu baixou a cabeça. Por mais que tentasse segurar o choro veio de uma vez. Sua resposta foi o silêncio e as lágrimas caídas em cima do chão de terra eram o prenúncio do fim, para ele estava tudo acabado.
Chegou à noite. O clima dentro da casa não era nada bom, o incêndio havia pegado todos de surpresa. Não tinha como aquilo terem acontecido, todos eram cuidadosos...
- O senhor não vai dormir pai?- Perguntou um dos filhos
- Estou sem sono, vou ficar na varanda pensando na vida.
E lá se foi Tadeu. Vestido com calça, camisa e suspensórios. A expressão em seu rosto era de total desolação. Nem a morte da esposa o abalara tanto, aliás, a morte de Carmelita, companheira de anos, não o abalou nenhum pouco. Sua vida eram as flores e por elas ele estaria disposto a morrer. Plantaria tudo de novo, mas naquela altura da vida não tinha mais forças para ficar abaixado jogando sementes.
Sob a luz da lua, por detrás da cadeira um pequeno vulto surgiu, era o neto mais novo. Leonardo se aproximou do avô, sentou no primeiro degrau da escada, bem ao lado do homem que tanto admirava. O silêncio que machucava os ouvidos foi interrompido por uma pergunta do neto:
- O senhor gostava muitos dessas flores, não é mesmo?
Sem olhar para o neto o velho respondeu:
- Era a minha vida.
Leonardo, no alto de seus doze anos respirou fundo e perguntou de novo:
- A vovó Carmelita era também a sua vida?
Dessa vez Tadeu olhou para o neto, que estava agora com a cabeça baixa:
- Por que tu me perguntas isso moleque? – Indagou o avô ao neto.
O garoto ficou de pé.
- Porque o senhor sempre a desprezou? Eu não me lembro de vê-lo a tratando bem. Até parece que as flores tinham mais importância.
Aquela situação o pegou de surpresa. Tadeu Ravanelli não sabia como responder ao neto.
- Uma vez o senhor me disse que uma flor só se desenvolve se ela for regada, e não era só isso. Além de água e adubo ela precisa de carinho, e as pessoas são iguais.
Tadeu arregalou os olhos diante das palavras daquele jovenzinho de cabelos lisos, rosto redondo e olhar firme, iguais ao da avó. Leonardo prosseguiu.
- A vó vivia reclamando que o senhor a desprezava, que a tratava feito lixo.
- Eu nunca a tratei mal! – Esbravejou Tadeu.
- Então por que o senhor não a deixava ajudar com a produção?
- Como alguém que vivia enfiada numa cadeira de balanço poderia ajudar?
- De várias maneiras. Se ela não podia por a mão na massa, ela poderia entrar em contato com fornecedores, compradores, enfim, ela cuidaria de toda parte administrativa. Fazendo isso ela se sentiria mais útil.
Tadeu Ravanelli ficou surpreso com a inteligência do neto mais novo. Aos oitenta anos de idade ele estava quase que no fim da vida, tinha os filhos, os netos, mas não tinha aquilo que lhe era mais importante, as flores.
- Agora não adiantaria mais, veja. – Diz ele apontando para o que havia sobrado do incêndio. – Queimou tudo. Eu teria que plantar tudo de novo. Já não tenho mais idade para isso.
Leonardo Ravanelli deu um abraço apertado no avô. O velho que era avesso a gestos desse tipo abraçou o menino e chorou. O garoto por sua vez levantou a cabeça e disse:
- Não se preocupe vô, eu te ajudo a plantar tudo outra vez.
FIM...