Depois das 23

Quando Aline me ligou avisando que tinha acabado de estacionar o carro na minha porta, já passava das 23:30. Saí do quarto e fui abrir o portão. Ela estava lá, com os olhos vermelhos e cheirando a cerveja.

- Posso entrar? – perguntou-me.

- Pode sim... – Respondi me afastando e fechando o portão assim que ela entrou.

- Só quero conversar um pouco.

- Tudo bem, vamos pro quarto.

Andamos pelo quintal e seguimos pela casa a dentro até o meu quarto.

Ela se sentou na cama e eu perguntei.

- Você quer uma água?

- Quero sim. Por favor.

Fui até a cozinha e voltei com um copo de água.

Aline bebeu metade e se deitou na minha cama, como se estivesse em casa.

- Deita aqui um pouco comigo. – Pediu-me.

Fechei a porta do quarto e me deitei ao seu lado.

- Aconteceu algo, Aline?

- Não.

- Tem certeza?

- Olha. Não quero falar sobre isso.

- Tudo bem. Tudo bem. Só fiquei preocupado.

- Não precisa. Eu já sou bem grandinha.

- Então, Aline. O que você quer de mim?

- Eu quero que você me foda, como você disse que fodia com aquela garota que você deixou no Recife, antes de vir para cá. A que você é apaixonado até hoje.

- Olha. Não é assim que funciona.

- Bem. Eu só estou te pedindo que finja, ok. Finja que eu sou ela e transe comigo. Não deve ser tão difícil...

Eu sabia que aquilo podia continuar por muito tempo ainda. Aline era meio intransigente quando queria alguma coisa, então resolvi fazer o que ela pedia.

Ela tirou a própria roupa, depois tirou a minha e começamos.

Fechei os olhos e tentei fazer o que ela me havia pedido. Mas de fato não era tão simples.

E eu nunca fui muito bom com fingimentos. Transamos, mas daí por diante não fechei mais os olhos e pensei apenas naquele momento. O que pareceu ser suficiente para Aline.

Quando terminamos, eu estava exausto, pelo esforço e pelo calor do verão de Ribeirão Preto, que quase conseguia ser pior do que o da minha cidade.

Me levantei e observei Aline ofegante sobre a minha cama.

Havia uma expressão estranha em seu rosto. Como um prazer tomado de culpa.

- Vou buscar uma água. Já volto. – Eu lhe disse.

Ela sequer respondeu, e eu fui até a cozinha, nu como havia chegado ao mundo.

Bebi quase meia garrafa de água gelada e ainda assim não me sentia completamente satisfeito.

Quando voltei ao quarto, Aline já estava vestida, em pé ao lado da minha cama e com as chaves do carro na mão.

Eu juntei as minhas roupas no chão, vesti minha cueca e me sentei na cama.

Ela ficou me olhando, sem dizer nada, como se esperasse que eu falasse algo.

- Deixa o dinheiro ai na cabeceira quando for sair. – Disse-lhe.

- Dinheiro?

- Ora. Se você quer me tratar como um Michê, pelo menos pague pelo programa.

- Você entendeu errado...

- Eu estou brincando, Aline. Não precisa ligar pra tudo o que eu digo.

- Ah...

- Bem. Se você realmente precisa ir embora, não tem problema. Mas da próxima vez que vier, avisa com antecedência.

Ela abriu um sorriso envergonhado e eu a acompanhei até o portão.

- Boa Noite. – Ela disse antes de sair.

Não nos beijamos.

Ela foi embora com seus pensamentos

e eu fiquei com os meus, e com a saudade de alguém que estava a mais de 2000km de distância, e provavelmente sequer pensava em mim.

Pelo menos era isso que eu achava.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 28/03/2019
Código do texto: T6609526
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