Ruth

- Meu namoro com Manu deu certo, por assim dizer, por cerca de meia hora, que foi exatamente o tempo em que fizemos amor depois que ela me pediu em namoro e de que eu aceitei. E foi assim por que eu acho não tinha como passar disso, sendo ela quem é. – Anunciou Ruth, antes de virar uma dose de conhaque de alcatrão de um copo plástico de café.

Algumas pessoas da mesa riram, outras não disseram nada. Mas Manu se ergueu, acendeu um cigarro e replicou na mesma altura.

- É por isso que não deu certo. Você fala demais sobre tudo pra todos. Não gosto desse tipo de exposição.

- Você podia logo assumir que me traiu e me deixar sofrer minha dor de corna em paz. Mas não, fica ai com essa pose de quem está sempre certa. Só que eu bem sei que não está. - Acusou Ruth.

- Ruth. Pra começo de conversa você me rejeitou desde o primeiro momento. Acho que eu sou mulher demais pra você. Afinal, você é viciada em macho... Em macho não... em Rola mesmo. Por que nem de gente você gosta. Só gosta de coisas que você consegue colocar pra dentro de si. Comida, fumaça, cachaça, rola... É por isso que pra nós duas não tem mais volta.

Ruth ficou sem ter o que dizer, e por alguns instantes pareceu que não conseguira segurar o choro. Um choro de raiva e de tristeza por ter ouvido aquele tipo de coisa. Tão cruel, mas ao mesmo tempo, familiar.

Manu se calou, e parecia ter consciência de que havia se excedido, mas se limitou a se sentar e beber um gole do seu vinho barato.

- Você realmente pensa isso de mim, Manu? – Ruth perguntou finalmente.

- Sim e Não. Às vezes eu acho que é. Mas aí você vem com seus versos e suas cartas. E eu acho que tudo vai ficar bem... Eu nunca sei o que esperar de você. Estou cansada disso.

- Eu também. – Disse Ruth, levantando e juntando as suas coisas da mesa do bar.

- O que você vai fazer agora?

- Vou sair por aí. Tentar provar algo pra você.

- Provar o que?

- Que você está certa. Ou que está errada. Tanto faz. Talvez eu ache alguém... que não seja só mais um órgão sexual, como você acabou de dizer. E se eu não encontrar, bem... pelo menos vou ter mais uma história pra contar por aí. Já que você diz que eu gosto de falar sobre isso.

Manu deu um sorriso. Um sorriso tenso, de quem não conseguia acreditar no que estava ouvindo. E sussurrou.

- Ok.

Ruth deixou uma nota de 20 reais sobre a mesa e se afastou.

- Acho que isso paga minha parte da conta. – Disse antes de sair do bar, se perguntando onde iria terminar a noite.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 27/03/2019
Reeditado em 17/06/2021
Código do texto: T6608698
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