O homem das flores - Capítulo 5.

A morte de Carmelita pegou a todos de surpresa. Ninguém da família entendeu como ela conseguiu se levantar mesmo após tanto tempo. Parecia ter havido um milagre divino, e o mais incrível de tudo foi como o seu corpo foi encontrado, por um dos filhos, deitada em meio às rosas vermelhas.

Passados mais de cinco anos de sua morte, um vazio ainda tomava conta de todos da família, menos Tadeu, que à época parecia pouco ter se importado com o ocorrido. No dia sua única preocupação foram às rosas vermelhas, destruídas pelo peso do corpo da esposa, que podia ter caído em qualquer outro lugar, mas foi justamente ali, em cima de uma de suas melhores produções que ela foi morrer.

- Tudo bem com o senhor? – Perguntou um dos filhos.

Tadeu que estava em pé em frente ao local aonde a esposa havia falecido, virou-se e respondeu:

- Estou bem. Só me deixe sozinho, por favor.

O filho colocou a mão no ombro do pai:

- O senhor sente muito a falta da mamãe, não é mesmo?

Os olhos de Tadeu Ravanelli se encheram de fogo e irritado ele respondeu:

- Não sinto falta alguma! As pessoas morrem! Todos nós vamos morrer um dia. Estamos aqui só de passagem. E a sua mãe, sua mãe...

Sua voz foi sumindo. O céu começava a fechar, nuvens escuras surgiam e o sol ia se escondendo por detrás das montanhas.

- O que tem a minha mãe? – Perguntou o filho.

Tadeu saiu andando e falava enquanto caminhava, dando ordens para o filho:

- Deixe de besteira, pegue uma tesoura e vá cortar as flores mortas, sua mãe já está enterrada, não tem serventia nenhuma, aliás, nunca teve.

Um raio riscou o céu como se aquilo fosse um aviso divino.

- Não fique aí parado. Vamos, mexa-se! – Ordenou Tadeu, aos gritos.

Aquele dia permaneceria assim, com Tadeu gritando com todos, inclusive com o neto mais novo, Léo, que já estava com doze anos de idade, e ajudava na produção das flores.

Com lágrimas nos olhos o menino correu para dentro de casa e foi procurar a mãe, a mulher estava na cozinha auxiliando a empregada com o almoço. Ao ver a tristeza nos olhos do menino, Dorotéia ficou de joelhos e abraçou bem forte seu único filho.

- Aconteceu alguma coisa?

Quase a soluçar o garoto respondeu:

- É o vovô. Ele tá muito estranho. Não fiz nada e ele gritou comigo.

Dorotéia sabia o porquê de tudo aquilo. O sogro era um homem amargo, mas depois da morte da esposa, ele havia piorado. Reclamava de tudo e descontava em todos. O neto, infelizmente sofria com tudo aquilo.

- A morte de sua avó o deixou muito abalado, tente entender.

Mas como compreender tamanha estupidez por parte de um homem que para o neto era tido com um herói. Quando mais novo Léo adorava ficar perto do avô e sempre que podia ajudava, à sua maneira de criança, na produção das flores. E de uma hora para outra, viu o avô tornar-se um homem de aparência estranha, triste e sem vontade para nada. Léo ficou ali, abraçado à mãe e com as lágrimas escorrendo pelo rosto.

Fernando F Camargo
Enviado por Fernando F Camargo em 27/03/2019
Código do texto: T6608555
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