DUPLAMENTE AMADO

Prêmio Nobel de Literatura em 1967? Foi agitador, revolucionário, deputado pelo Partido Comunista, muitas vezes foragido ou preso, até se "aposentar" e virar somente um escritor.

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Acabado o almoço. JORGE foi sozinho para a varanda, trabalhar. Ainda não sabia exatamente o que faltava escrever, enfiou furioso o papel branco na máquina escrever e... pronto! Pôs a palavra FIM em seu então último romance, 1966 - 'Dona Flor e seus dois maridos" ou "A espantosa entre o espírito e a matéria, ou história natural e de amor".

Quando ALEXANDRE DUMAS acabava de escrever um livro, jogava-se na cama e executava um acesso de riso. MACHADO DE ASSIS , sem sair da mesa, apanhava mais papel e escrevia dezenas de cartas aos amigos, anunciando a grande novidade. GABRIELE D'ANNUNZIO chamava para sua casa a mais bonita e apaixonada admiradora e festejava como sacerdote de amor latino. HEMINGWAY telefonava ou telegrafava para Dom Ramirez, dono da "Casa de los toreros", em Madrid, botequim pé-sujo, mandando oferecer dose dupla de conhaque a todo mundo. JORGE quase chorava, afirmando, ar de muita tristeza, simplesmente que: "- É, dessa vez, Dona Flor foi-se." Ao final de 'outro' livro, no quarto de dona ZÉLIA: "Gabriela nos deixou. Puxa, vida, tinha que ser logo nesta tarde de chuva." E logo centenas, milhares de pessoas passam a intimidade e convívio de tantos personagens. Ora somos marinheiros ora camponeses, árabes, pretos ou brancos, feios ou bonitos, honestos ou malandros, heróis ou covardes: nós em cada figura de JORGE AMADO.

Nasceu numa fazenda de cacau em Auricídia, município de Ilhéus, sul da Bahia, 1912, de pai sergipano, mãe baiana de origem indígena. Com 7 anos, foi inaugurado na política, assistindo com o pai, no Tribunal de Ilhéus, ao julgamento de camponeses responsáveis pela ocupação de terras na região de Sequero de Espinho - juiz mandou que o menino sorteasse os jurados, episódio aparecendo 25 anos depois no romance "Terra do sem fim". Aos 12 anos, fugiu do colégio, onde o pai o internara dois anos antes, em Salvador - pai foi buscá-lo na casa da avó, em Sergipe, e internou em outro colégio de Salvador, onde fundou um jornal oposto à diretoria. Aluno externo aos 15 anos e arrumou emprego de repórter no Diário da Bahia. Aos 18, após reprovações, pai deu-lhe algum dinheiro e viajou para o Rio de Janeiro, indo morar numa pensão na quase deserta Copacabana - no colégio, apelido Fantasma, de presença semanal. Primeiro romance "O país do carnaval". Faculdade Nacional de Direito, sem nunca ter ido buscar o diploma. Segundo livro "Cacau". 1033, estreando como 'autor proibido', conteúdo político não satisfez a polícia carioca, apreensão de dois mil livros da primeira edição; liberado, esgotado em poucos dias e muito elogiado pela crítica.

Casou, nasceu a filha LILA em 1934, fim do casamento em 1941, filha morreu de doença tropical oito anos depois.

Preocupação quase exclusiva de sua obra era denunciar injustiça social que existia em todo o país e em particular nas regiões onde vivera infância e adolescência. Achou como melhor solução o marxismo. Em 1935, 'poesia' rebelde de "Jubiabá"; drama do cais, 1936, "Mar morto"; em 1937, "Capitães de areia", outro 'poema' intenso de ideias revolucionárias. Nesse mesmo ano, livros queimados na Bahia e em São Paulo, em praça pública. Preso em novembro, quatro dias antes de surgir o Estado Novo - até 1941, muitas prisões. Campainha no apartamento de RUBEM BRAGA em São Paulo, hospedado, era sempre a polícia e ele dizia: "Estou pronto!" Argentina em 1941, onde publicou "O cavaleiro da esperança", apologia do líder comunista LUÍS CARLOS PRESTES, publicado no Brasil somente em 1945.

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FONTE:

" O homem amado" - SP, revista REALIDADE, n.5, ag./66.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 24/03/2019
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