O homem das flores - Capítulo 1.

A última flor não parecia ter nascido tão bela quanto às outras naquele imenso jardim. Era uma tarde do mês de setembro, o mês das flores. Era época de colheita na fazenda do senhor Tadeu Ravanelli, um homem de um pouco mais de setenta anos de idade, cabelos brancos e a pele manchada pelos raios do sol e enrugada pelo tempo. A plantação de flores havia começado com os pais dele. Filho de uma italiana e de um alemão, ele pegou gosto pelas plantas desde muito novo.

Tadeu se aproximou da última flor, uma rosa. Com certa dificuldade foi se abaixando o suficiente para ficar perto dela. Igual a um homem que conversa com a amada, ele ficou a conversar com aquela flor. De longe, funcionários, filhos e netos assistiam surpresos a cena. Após algum tempo, ele se levanta, sorri e sai caminhando calmamente.

Ao chegar perto de onde estavam seus espectadores foi questionado por um dos netos:

- O senhor estava conversando com a flor, vô?

O velho pôs uma de suas mãos no ombro do neto, um menino pequeno, de fraldas e chupeta, que usava uma camiseta com um dinossauro desenhado no peito.

- Estava sim, o vovô conversa com as flores.

- Ela está doente?

- Um pouco, mas vai ficar boa logo, é só ter paciência.

Tadeu pegou o neto no colo e sendo observado pelos outros saiu em direção ao enorme campo florido de sua fazenda. Os olhos da criança brilharam diante de tamanha beleza.

- Olha lá vô, que bonito! – Exclamou o pequeno Leonardo ao ver as rosas, flores de diversas cores, para todos os gostos e fregueses.

- Sim! São todas bem bonitas e perfumadas.

Tadeu tinha uma família grande. Três filhos e cinco netos. O primeiro bisneto nasceria em pouco tempo. O neto mais velho tinha 22 anos e seria pai muito em breve. O mais novo estava em seu colo, tinha dois anos, e era o mais adorado entre todos.

No entanto as coisas não andavam muito bem. A esposa de Tadeu, avó de Leonardo, estava adoentada havia algum tempo, e a enfermidade da matriarca da família havia pegado todos de surpresa. Todo o dinheiro conseguido com a venda das flores quase não existia mais, devido aos gastos com os medicamentos e o tratamento de saúde de dona Carmelita. Apesar de todos os percalços, todos eles mantinham as esperanças de dias melhores, e aquele parecia ser um dia bom.

Avô e neto entraram em casa. A avó sentada em uma cadeira de balanço se balançava para frente e para trás. Leonardo chegou perto da avó e começou a falar todo empolgado:

- Vó! O vô conversa com as flores!

- Eu sei meu querido, seu avô é o homem das flores. - Disse a avó ao neto.

De olhos arregalados o menino indagou a avó:

- Como assim?

- Sente-se em meu colo, vou lhe contar uma coisa.

Leonardo se acomodou no colo da avó, e com ouvidos atentos começou a ouvir em silêncio toda a estória. Passadas algumas horas o pequeno Léo adormeceu nos braços de dona Carmelita sem ter podido ouvir o final. Ao ver o neto adormecido nos braços da avó, Tadeu se aproximou em silêncio, pegou o menino nos braços e disse:

- Vou leva-lo para cama. Pelo menos lá ele pode descansar melhor.

O menino foi despertado pelos primeiros raios de sol invadindo as frestas da janela. Com suas pequenas mãos coçou os olhos, bocejou e esticou os braços para tentar despertar. Léo saltou da cama, e com passos atrapalhados foi andando em direção à sala. Ali não tinha ninguém. Todos estavam na cozinha, tomando o café da manhã. A família estava reunida em volta de uma enorme mesa com tampo de madeira. Cada membro da família Ravanelli sentava-se em um local determinado. Dona Carmelita e o Senhor Tadeu ficavam nas pontas; do lado direito os filhos, do esquerdo os netos. Em cima da mesa, coberta por uma enorme toalha, feita com retalhos costurados de trapos velhos tinha muita fartura: Pães, bolos, suco, café e chá; biscoitos amanteigados, tudo do bom e do melhor. Todos comiam em absoluto silêncio e respeito. A quietude era interrompida apenas pelo barulho das colherinhas mexendo o açúcar dentro das xícaras, e pelo arrastar inconfundível das sandálias de Léo.

- Sente-se aqui. – Disse a avó apontando para um lugar vago, justamente o local determinado para as refeições do pequeno.

O menino conseguiu subir à cadeira graças à ajuda de um de seus tios, que foi logo lhe oferecendo um pão. Léo mordeu e de boca cheia pediu.

- Eu quero leite com café, por favor!

Léo foi servido e deu um gole na xícara de plástico.

Fernando F Camargo
Enviado por Fernando F Camargo em 23/03/2019
Código do texto: T6605236
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.