ONDE O MUNDO ACABA
Ricardo abriu os olhos e não havia mais vida. Era a cobertura de um prédio de vinte e cinco andares e de lá ele viu a terra que ardeu. Mas agora tudo era silencio e uma fumaça que cobria o ar. O céu continuava avermelhado como se o fogo tivesse ganhado asas... ou como se Deus tivesse tragado o inferno com um narguilé.
Notou que os corpos tinham desaparecido... ao menos de longe não podia vê-los. Desceu as escadas... levou um longo tempo fazendo isso. Quando chegou na rua..., realmente os corpos tinham sumido. Era apenas Ricardo, onde o mundo jazia. Andou pelas ruas desertas, mais esperançoso de encontrar animais pequenos e matar sua fome do que de encontrar civilização. “Pessoas trazem problemas... Melhor mesmo que não existam mais!” Havia uma aura esverdeada, poluída... venenosa, que revestia o todo e Ricardo não enxergava mais que um metro a sua frente. Pisou em uma pedra pontuda e deu um grito agudo de dor. Se abaixou com lágrimas nos olhos. Ele procurava uma desculpa pra chorar... não tinha doído tanto assim. Chorou por alguns minutos e quando esfregou os olhos percebeu que havia no chão uma muda de flor que parecia brotar do concreto ardente. O mundo estava renascendo, em cima do velho mundo... bem ao lado do seu pé dolorido. Ricardo agradeceu por não pisotear o mundo - mais uma vez - sem querer.
22 de agosto de 2017