Um dia cinza e frio em algum lugar
Caminho pelas ruas, o dia cinza e chuvoso. Cinza e triste... a chuva não era triste, pelo contrário, as folhas das árvores estavam molhadas com cores vivas, pessoas apressadas, crianças brincando felizes na chuva.
Não, o dia estava alegre. Triste era eu, triste estava eu. Triste por causa de um amor perdido, de uma despedida dolorosa.
Peço um expresso numa cafeteria e escolho uma mesinha na janela onde eu via a rua, a chuva e as árvores.
O café estava doce, as árvore dançavam molhadas ao vento e as crianças ainda brincavam na chuva sobre os protestos de seus pais.
Sim eu sei, a vida e a imortalidade nos fazem felizes, talvez mais a vida que a própria imortalidade. Mas pra quem perde um amor nada é colorido, tudo é cinza. A dor da morte, a dor da perda do amor. Ela me disse firme e assustadoramente fria "Eu não te amo mais, eu vou embora, fique bem".
Nesse momento senti a morte, senti a dor de uma faca no peito, senti o mundo perder as cores e tudo perder o sabor.
Bebo o café quente e doce, mas sentia- o amargo e frio. O casaco de moletom e seu capuz me aqueciam do frio, mas ainda assim eu sentia o coração gelado e o sangue frio sem vida nas veias.
Olho sem vida pela janela, suspiro. Gostaria de chorar mas as lágrimas não sai.
Sim eu sei tudo passa, logo terei um outro amor, logo sentirei outra vez o sabor e verei as cores do mundo, estarei forte. Mas não agora. Pago o café e saio na chuva.
Repito "Não agora".
Agora, tudo o que tenho são um coração vazio, um amor perdido e um dia cinza e frio de chuva num lugar qualquer.