** BOI TOMÉ**

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Na sombra da baraúna , na ‘SERRA DA MANTIQUEIRA’ ,

Fazenda da aroeira , as quinze para meio-dia ,

Nascia ‘BOI TOMÉ’

Nome dado por ‘PAI JOÃO’, e a boa ‘MÃE MARIA’ ,

Animal rezado por dentro e por fora ,

Infalível reprodutor ,

Com forças ocultas ,

E inteligência afetuosa.

Sêmen inesgotável , povoando os pastos ,

Seu nutrimento era milho verde ,

Sal grosso , capim e pimenta ,

Soltava fogo pelas as ventas ,

No despautério , vendo a extensão da covardia ,

Do coronel Sanguinolento ,

E ao ver pai João , fundeado a ferros no tronco ,

No levantar do chicote , o disparado ‘BOI TOMÉ’ ,

Como um tufão , chifrou o coração do capataz .

Seus servos , seguindo suas ordens ,

Deixam o majestoso animal sem água ,

Sem alimento , faminto , lambendo sal grosso ,

Ao sair da punição ,

‘BOI TOMÉ’ , astuto que era ,

Não quis emprenhar nenhuma vaca ,

O animal lhe oferecia o cálice de seus sentimentos ,

Dias e meses foram se passando ,

Com a natalidade desprezível dos bezerros ,

No bolso do avarento coronel , foi aberta uma ferida.

‘BOI TOMÉ’ , além disso , açoitado de modo terrível ,

A ferro em brasa em seus colhões ,

Subjugado , dentro do extinto raivoso ,

Emprenhou uma vaca , esta , que ao dar a luz ,

Viu nascer um bicho horrendo , estranho ,

Acercar-se , do horror das pessoas ,

Oriundo com duas cabeças de gato,

Olho de peixe , dois pés de pato virados para trás ,

Corpo de homem saindo correndo ,

E em seguida deixando a sofrida e agonizante ,

Estafada mãe vaca .

Adentrando a mata espessa ,

Com grande enigma , todos com temor da criatura ,

Todos diziam que era a coisa ruim ,

DEMO , CÃO , TINHOSO , O CAPETA !

Mãe Maria , e Pai João ,

Após terem feito uma possante oração ,

Sérios , afirmou , o sinhozinho ,

Vai pagar todos seus pecados terrenos,

Ele virá acabrunhar a fazenda ,

Assuntando vosmicê ,

É preciso ter confiança em deus nessa hora ,

Não estaremos livres no engenho , nem na senzala .

Foram-se passando os dias na fazenda da aroeira ,

Pessoas não dormiam , a criatura surgia nas madrugadas ,

Fazendo alvoroço , miava , cacarejava , berrava ,

Devorando , chupando sangue dos patos , marrecos , galinhas ,

Deixando os animais , as criadagens apavoradas ,

Fazendo desaforos ,

O alarmante ainda urinava e cagava na entrada das portas ,

Com integral impetuosidade , exacerbada na anormalidade ,

Vomitava e ejaculava ,

Nas aglomeradas roupas dos varais .

Ao chamar o padre Felisberto , para bendizer a fazenda ,

Um imprevisto surgiu ao abrir a bíblia ,

Uma ventania desaforada , desfolhando as páginas ,

Fazendo cair uma carta aos pés do coronel ,

Na reconhecida caligrafia ,

Um retrato , com dedicatória da amante,

Um rosto angelical , símbolo de candura ,

Não era o que acometia por dentro ,

Arrebatada , presente , padecida , bela mulher do coronel ,

Amante há vários anos , Felisberto e sinhá Rosa ,

Com suas cabeças a prêmio , na cólera do coronel ,

Fogem do arraial , e vão ser afortunados

Em distantes paragens , seguindo a vida .

Coisa nenhuma dava certo ,

Morriam plantações , animais ,

A terra fértil transformando-se em areia ,

O capitão do mato para ganhar pontos ,

Mostrando-se astuto aos olhos do patrão ,

Aconselha matar Boi Tomé ,

Oferecendo o sangue do pai para aquela criatura ,

E que tudo mudaria para melhor na fazenda ,

Tomé foi amarrado no tronco da baraúna ,

Para ser sacrificado nos primeiros raios de sol ,

Ao amanhecer com arma em punho ,

Abismado , ao ver que o Boi Tomé tinha desaparecido ,

Ordena que dê uma surra em Pai João e em Mãe Maria .

Pensando que eles teriam ajudado Tomé a fugir ,

Os dois amarrados ao tronco prontos para as chibatadas ,

Ouviu-se um alongado mugido ,

Ninguém compreendia o surgimento do mugido ,

Tão perto , invisível aos olhos de quem ouvia ,

Pai João e Mãe Maria , imediatamente libertados ,

Seu oponente transpirava frio , com suas mãos trêmulas.

Com enorme esgotamento nervoso ,

O coronel começou a ficar de tocaia dentro do celeiro ,

Para capturar a criatura ,

Quando em uma noite , entorpecido pelo cansaço ,

Exausto , deixou cair o lampião sobre os fenos ,

Provocando um arrasador incêndio ,

Despertado , sendo lambido pelas labaredas ,

Com as portas travadas ,

Pedia socorro , mas nenhuma pessoa

Conseguia arrombar aquelas portas ,

De repente , não se sabe de que lugar ,

Aparece Boi Tomé , com a criatura em suas costas ,

Aquela coisa apática , miava , berrava , cacarejava ,

Fazendo malabarismos ,

Tomé tomando emposso , arrombou a porta.

O imponente coronel , de joelhos chorava ,

Implorando para não ser morto ,

O velho Pai João lhe disse ,

-Patrãozinho agradeça , eles salvaram sua vida!

-Não agradeço à besta , nem o cão ,

Repelente do seu filho , desacerto da natureza!

A criatura enfurecida , sedenta ,

Cravou-lhe as terríveis presas ,

Na garganta .

Boi Tomé , acometido em sua bondade ,

Mata o gerado filho ,

Livrando o coronel da mão do carrasco ,

Tomé evaporou-se ,

Mas todos pensam que ele faz residência

Nas matas da Serra da Mantiqueira.

O coronel hoje é um homem mudado ,

Sua fazenda prosperou ,

Tornou-se mais humano , samaritano ,

Apurando seus pecados ,

Libertou seus escravos ,

Se tornou religioso ,

Com arrependimento sem consolação ,

Procura Boi Tomé por toda a serra.

Com convicção , na fé inabalável , no mundo invisível ,

Acredite quem quiser ,

Mãe Maria e Pai João narram com muitas risadas ,

Que o arremessador de fogo pelas ventas ,

Continua emprenhado as vacas ,

Mas na verdade Boi Tomé ,

Jamais se retirou das sombras da Baraúna !

SAM MORENO

SAM MORENO
Enviado por SAM MORENO em 19/09/2007
Código do texto: T659286
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