Espada do Espírito

Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus;

Efésios 6:17

Sombras densas pairavam nas imediações daquele vilarejo, a face das águas espelhava a névoa negra e o caráter depressivo da escuridão instaurada ali. Luzeiro algum sobrepujava o domínio enclausurador do que, no princípio, fora brisa cinzenta, nuvem solitária da realidade tempestuosa que estava por chegar.

Homens de boa estirpe, de corações quebrantados e conduta irrepreensível permitiram em seu meio o alojar da brisa fraca. No pequeno vilarejo a queda foi o salário de um processo lento e irresponsável; a insistência prepotente de caminhar próximo ao limiar entre a vontade de pecar e a consumação do pecado os fez cair em desgraça. Em meio ao primeiro passo em falso se abriu a brecha que alimentou o crescimento da névoa tempestuosa e consumou a queda dos homens.

Homens que na sensatez do passado afiaram o fio da espada do espírito, lustravam há muito o ouro que adornava o interior de suas moradas e a prata que recobria a armadura sobre seus corpos. Delegavam decisões importantes à convicções meramente humanas, tomavam sobre si o poder de transformar a moralidade do Senhor em leis que conversavam com a ambição e promiscuidade carnal.

O que firmava-se discretamente como semente perdida na vastidão da terra, aflorou num só golpe de destruição, massiva, densa, inexpugnável, espalhando-se ferozmente dentro dos corações deturpados que abandonaram o espírito para satisfazer os anseios ardilosos da carne.

Todavia...,

morava ali um homem ao qual treva nenhuma conseguia consumir, sobre ele nenhuma nuvem de tempestade recaía; o envolver desesperador da névoa tentava amordaçá-lo, atacava-o, corria em sua direção e dançava em seu entorno.

Mas ele era luzeiro abrasador, fogo infindável que desvanecia a mais sórdida escuridão; suas pegadas extinguiam qualquer sombra disposta no caminho, seu olhar era reflexo preciso da glória eterna que não era sua.

Este era o homem que não redobrara o joelho perante a si mesmo, antes, mantivera os olhos fixos na pedra de amolar, afiando dia e noite o fio da espada do Espírito Santo. E, traçando seu caminho, sentia a espada cortando a densa bruma até que não houvesse sobre aquela terra uma nuvem de escuridão sequer.

Até que outra vez mais o Espírito Santo de Deus queimasse nos corações de seus conterrâneos e, estando eles de olhos fitos no Senhor, voltassem a afiar a espada do Espírito.

Filipe de Campos
Enviado por Filipe de Campos em 27/02/2019
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