Rodrigo - A sombra
Introdução
Rodrigo, talvez o garoto mais inteligente de sua turma, talvez o mais sensível entre seus amigos. Mesmo se distanciando um pouco era de se esperar que as coisas viessem um pouco mais fácil que o comum.
Tinha olhos claros, cabelos pretos e a pele em uma tonalidade branco. O padrão em que a maioria das pessoas mais velhas colocam suas expectativas, o nerd e amante de informática e língua portuguesa da turma.
Três irmãos, Rodrigo o caçula e sombra de seus irmãos, Carlos que sonhava em ser músico um dia com suas próprias composições que o mesmo colocava em terceira pessoa para relatar seus problemas internos, Gabriel que queria se tornar um dia tudo que os três sentiram mais ausência depois de se mudarem para Fresno, sonhava em ter um bom emprego, casar e poder ser pai um dia.
Gabriel e Carlos, de uma boa altura, morenos. Depois de saberem sobre seu até então pai, foram libertos de certas atrocidades com o padrasto. Ambos com a chegada de uma possível liberdade se perdiam, só queriam poder se incluir, fazer amigos, conhecer algumas meninas para no fim das noites dizer a sim mesmo que tá tudo bem ali dentro, ainda que a situação ali estivesse dizendo muitas vezes o contrário.
Era de se esperar certo rancor camuflado pelo irmão Rodrigo mais novo, o branco, filho do homem que se dizia pai, privilegiado e o que recebia mais atenção.
Mesmo depois de se mudarem para Fresno o rancor e o sentimento de desigualdade eram ofuscados por compartilharem a mesma dor.
Início
Rodrigo essa tarde ficou de ir a casa de seu primo para ajuda-lo com deveres.
Ao menos o mesmo queria dar a entender que seria o que faria.
Pegou todas suas canetas, seus cadernos e simplesmente foi.
Ah, Rodrigo não se esquece. Ao chegar à esquina se lembra de ter deixado alguns cigarros sobre sua cômoda e antes que sua mãe pudesse notar o mesmo chega a tempo, esconde os cigarros, nota um leve mal hálito e toma um café as pressas.
Antes de chegar a porta sua mãe o chama.
- Desculpe, não queria ter de ficar tanto em seu pé. Notei que você tem se desviado demais, não recebe mais meus abraços, nem sequer come em casa mais. Vamos me diga, ou permaneça aqui sem o direito de sair mas em silêncio.
Eu não sei se serve de conforto, mas você é tudo que restou em meio a tantas coisas. Eu não quero te perder, não quero você como outra pessoa, não quero que force dureza, não quero que você se distancie tanto como seus irmãos...
Talvez eu não diga tanto, depois de seus irmãos eu nunca soube exatamente como te confortar. Você já tem seus 16 anos e tudo o que tenho feito é fingir que nada aconteceu.
-Mãe, chega. Eu não tenho motivos para tirar boas notas, eu nem sequer tenho motivo para tentar ser o que eu coloco em mim. Você pensa que eu também não sinto?
Eu não sou uma pessoa forte, inteligente ou independente. Acaba que as vezes eu só canso de tentar ser algo.
Você não tem culpa alguma, eu não me sinto seguro e também não me sinto próximo a ninguém. Desculpe se até então eu tenha criado não só contigo mas com todos essa imagem forjada de que eu faço as coisas com certa perfeição, a verdade é que quando você não tem o que se importar ou quando você perde parcelas da sua capacidade de sentir você só busca ansiosamente algo que te faça sentir. Cansei, eu me canso. Não há nada nessa porra de final do túnel como todos os filmes que sempre tenho me alimentado tentando dizer a mim mesmo que não estou só.
As coisas não são legais pra ti, eu entendo, mas mãe você foi tudo que eu pude sentir um dia não quero que você se perca em mim procurando algo que com o tempo meu jeito e sua esperança forjaram em mim. Desculpe, mas vou sair...
-Sabe, parece meio egoísta eu não querer me sentir culpada ou responsabilizada pelo seu caminho. Seus irmãos faziam de tudo um pouco, mais nunca conversaram comigo depois de estarmos aqui.
Pensava eu que era uma fase que tudo ia passar mesmo com a ausência do pai de vocês.
Seus irmãos e eu tão confusos como você, mas você está aqui. Diferente de seus irmãos está vivo!
Notei e não quis comentar, mas vi uma pequena quantidade de maconha em sua bolsa. Você não saí mais de casa, hoje trouxe alguém que você vai poder conversar. Sei que é trabalho dele, mas filho o amor está em você por isso você sofre depois de seus irmãos.
-Chega, mãe!
Eu vou sair, não me espere!
Sua mãe, 38 anos que a poucos anos acaba de se ver fora de um relacionamento abusivo de anos. Se culpa, se entrega aos choros e sua única companhia são os mesmos remédios de sempre que seu médico passa para acalma-la, ela queria dormir em paz mas desmaia...
Rodrigo depois de bater a porta, decide ir ao mesmo local onde frequentava com seus irmãos.
Na concha acústica não fala com ninguém, ele vê coisas e por algumas horas sente alguma coisa.
Ele abre o tinder, conhece uma ruiva de 1,65m. Ambos com o mesmo nível de sensibilidade e com experiências que só os deixaram dentro de si mesmos. Os fechados se abrem, as palavras não importam nada importa...
Começa a chover e não se importam em dividir o mesmo casaco enquanto a chuva caia.
Ele pegou em sua cintura, respirou sobre seu pescoço...
Ah, ele sentia alguma coisa além do corporal mas sentia.
Por estar longe de sua sobriedade ele estava sendo ele mesmo. Ele sentia pequenas mãos frias adentrando suas roupas e que ao invés de esfriar o aquecia.
Depois de horas sob efeitos de drogas ele volta a si mesmo.
Depois de levar ela a sua casa, o caminho parece um pouco distante mas ele tem de ir embora.