QUANDO ELA CHEGOU

Quando ela chegou o fotografo já estava a postos para registrar todos os momentos e compartilha-los na internet. Ele não era um paparazzo, mas agia como um afinal havia uma demanda para as imagens e o momento era único. Ele não se preocupou se revelaria intimidades ou nos direitos de imagem da fotografada. Varias pessoas aguardavam ansiosamente a sua chegada e por isso ela era tratada como celebridade.

Quanto a ela, ainda não se preocupava com a própria imagem. Talvez um dia, num futuro por hora distante poderia processar alguém por fotos indevidas ou por vazar sua nudez, mas não agora. Nesse instante pouco importava se estava na sua melhor pose, se precisava esconder suas dobrinhas gordas, se estava despenteada (nunca tinha usado chapinha) e nem se o tom de pele estava mais avermelhado do que o apropriado (não usava nada de maquiagem). Ainda não fora corrompida pela indústria da beleza que apontaria suas inadequações ao longo da vida e iria condicionar a sua autoestima a um modelo de capa de revista. Por isso ainda não fazia regime algum, somente uma dieta especifica por recomendação médica. Um único alimento lhe era permitido, mas isso por enquanto sem neuras ou estresse.

Para ela o importante era desfrutar o presente. Precisava rapidamente adaptar-se a sua nova realidade. Onde estava antes passou a ser incomodo e apertado, mas tampouco onde vivia agora parecia um local mais acolhedor. Muito frio, muita luz, diversos barulhos e ainda mãos desconhecidas apalpavam seu corpo sem pudor e sem sua permissão. Revelavam sua nudez tão precoce e já tão exposta ao inquisidor olhar alheio.

Era angustiante tentar decifrar os sinais de seu corpo e ter que continuar ali. Não tinha como voltar para a morada de onde foi expulsa.

Angustia também por sentir desesperadamente a falta de alguém. A única capaz de acalma-la nesse total descontrole. Em poucos minutos que pareceram uma eternidade foi reconduzida ao local familiar. Instintivamenteu reconheceu que ali era o seu lugar no mundo e sentiu-se plena. Não comungaria das agressões do mundo, pois apesar do seu medo e de sua aparência teve a clareza de que tudo ficaria bem. Sentiu-se amada e acariciada por um reconfortante e suave toque. Estava novamente acolhida no singelo e sagrado colo de sua mamãe. Ela, uma simples bebê que acabou de nascer.