No vazio do Nada
Todos os dias para Ana, era um dia de nada. Certa vez pela manhã, teve dificuldades para levantar, mas, felizmente conseguiu mais uma vez vencer, sem contar que sua única vontade era de nada, nada além de ficar perdida em seus pensamentos totalmente estranhos...
Quando à tardinha chegou, Ana sentou-se na varanda e continuou com suas ideias de nada. Olhar perdido, carros e pessoas passando, televisão falando sozinha dentro de casa (só para fingir que existia alguém a mais), céu preparando chuva e uma brisa muito boa que chegava. A mulher que adorava viver mergulhada na imensidão do nada, fixou seu olhar em suas plantinhas e, começou a indagar-se o porquê de sempre estarem morrendo, pois cuidava com tanto zelo e amor, como se dependesse disso para viver. Jogava as sementes, algumas brotavam, outras não, e às vezes quando já estavam crescidinhas, se quebravam e morriam. Mas, ela não desistia, plantava-as novamente, sempre na esperança de algum dia colher algumas flores que pudessem enfeitar seu sorriso que há tempos não se via.
As horas foram se passando, e Ana imersa naquele vazio, nem percebeu quando a noite chegou. As luzes que se acendiam, ardiam-lhe os olhos, hora lacrimejavam, hora ficavam ressecados como se espinhos estivessem sangrando suas pupilas, era nesse momento que engolia a saliva amarga horrível descendo em sua garganta. A coitada estava doente, mas, mal sabia. Não comeu nada aquela noite, tão pouco conversou, preferia se guardar no silêncio profundo...
Eu confesso que sinto muito, muito mesmo por Ana. Queria poder acariciar o seu rosto e mudar o rumo de sua história, mas não posso impor as minhas vontades, Aninha tem vida própria, gosta desse estranho “nada” e dessas coisas eu realmente não entendo. O que essa menina quer ninguém sabe, é complexo demais para nossas mentes que já vivem tão ocupadas e, para nossos dias tão corridos. E assim seguia e vivia, porque é uma daquelas plantinhas, não queria desistir de si mesma, mas também não entendia, por mais que uma vez ou outra morresse, preparava a terra e sempre dava um jeito de nascer de novo.