Brincando nos campos do senhor
Filha de fazendeiro, Gisele, foi internada na melhor escola da capital de Belém. Onde, a começar pela arquitetura suntuosa da entrada do prédio, aos seus detalhes, nas janelas, ornamentada pelo elogiado jardim sob as janelas e o caminho das árvores com a sua mistura de mata nativa, sob o elixir da combinação de aromas silvestres. Sobretudo da estrutura interna e da competência de seus professores, em sua maioria, freiras, padres e professores renomados. Bem como a fama da instituição que a precedia em todo o canto da cidade.
A primeira vista a menina foi logo se apaixonando. Tanto que ao chegar, deixou as malas no chão e foi correndo ver o belo jardim, que crescia majestoso e onde os pássaros já fazia aquela festa da vida.
Depois de um longo abraço, despediu-se do seu pai e subiu as escadarias toda entusiasmada com a madre superior, para conhecer as dependências internas, seu quarto e suas futuras amigas.
Devidamente situada a moça, que não parava de se surpreender, a cada dia criava inúmeros sonhos, diante de tanta oferta a criatividade e amizades sinceras. Mas como tudo na vida precisa se ter certa precaução e nada se consome num dia, foi chegando o pôr do sol, também na saudade do seu pai, que ao conversar com sua esposa dizia ter feito a escolha certa e acreditava que tinha deixado a sua filha no lugar de crescimento moral e educacional adequado.
Sob o efeito dos encantos da escola, Gisele voltava sempre a ver os seus pais e a fazenda em cada fim de semana e sempre trazia várias informações, cada uma mais mirabolante que as outras. Natural aos olhos de uma adolescente, que estava descobrindo um novo mundo, diante dos vários mundo, que ainda iria descobrir.
Em um ano de escola, os elogios a menina, as boas notas e o comportamento exemplar faziam par com a conduta da instituição. Tudo corria bem, as amizades, a instrução de formação profissional e educacional. Quando, porém, um dia correndo a brincar de esconde esconde com as suas amigas, pra se esconder, ela, Gisele, adentrou uma das salas mortas, ou seja, que não eram muito usadas e deu de cara com uma cena, marcante. Um dos padres daquela casa, numa ação libidinosa, levantava a saia e tocava com as suas mãos do pão e do vinho, os seios maternos, íntimos de uma das várias freira, na flor da idade. Tão entusiasmados estavam, que a princípio, se quer viram a moça, não fora o grito de susto da adolescente, a despertá-los do que mais se persegue, se proíbe e se criminaliza nas escrituras… o pecado.
Mais do que depressa Gisele saiu correndo da sala e sob efeito de um desespero comum, pra quem nunca viu algo assim, foi logo falando pra todas as meninas, que em poucos minutos já estava na boca de todas estudantes daquela escola.
Como na santa inquisição, a moça foi chamada pela direção a se retratar. Coagida a negar tudo ante a madre e suas amigas de sala, bem como o padre e a freira, sob pena de ser expulsa do colégio, por espalhar mexericos maldosos. No entanto, ela, que tinha os seus princípios de casa e religiosos, se negou a mentir.
De imediato ela foi isolada e chamado o seu pai para dar provimento aquela situação. Com o pai e a mãe alí diante da Madre superior e os dois professores do delito, foi exposta a situação. Mas seu pai que a conhecia muito bem, quando ouviu a história, já na presença da filha, que foi trazida por outra freira e convidada a negar. Ele nem permitiu que ela falasse e disse:
- Senhora Madre Superior, vocês pode dizer o que quiserem, mas aminha filha não ia inventar uma história dessa. Conheço-a muito bem e sei que ela não mente.
Interpelado pela mãe que completou:
- Senhora, em casa nós ensinamos os nossos filhos a não mentir doa a quem doer. Por isso acreditamos nela.
Sob um silêncio de ordem sistemática e ditatorial, a madre sentenciou:
- Bem, nesses termos a moça a partir de hoje está expulsa de nossa instituição, por difamação e calunia.
Gisele, doce como as flores campesina, com o seu senso de justiça aflorado, parou nas escadarias de saída do colégio, com as suas malas, seu pai e sua mãe ao lado, olhou ao redor, viu as suas amigas e declarou:
- Eu vi o que vi e não tiro nenhuma virgula. E seguiu escada abaixo, sob aplausos de todo o colégio.